domingo, 5 de dezembro de 2010

Transformação Social no Século XXI

Restrições e Possibilidades (versão 09/04/02)


O contexto para a realização do potencial humano de criar, distribuir riquezas e ser feliz depende, em primeiro lugar, de como os indivíduos se alinham com as visões de mundo que orientam a organização da sociedade. Essas visões de mundo, embora defendam fins semelhantes, acreditam em meios diferentes de alcançá-los, criando ou limitando oportunidades individuais e coletivas. Neste texto será mostrado que, quando se confrontam os tipos extremos dessas visões a partir de um ponto de vista neutro, fica evidente que nenhuma delas tem respaldo suficiente para se impor à outra. Evidencia-se a necessidade de uma síntese que inclua as verdades fundamentais existentes em cada uma delas. Porém, na ausência de uma concepção teórica bem estruturada dessa nova visão, impõe-se a sua construção pela busca de soluções para problemas locais de interesse comum, a partir das condições vigentes. O caminho será construído no ato da caminhada, a partir de prioridades e valores compartilhados.


Visões de Mundo Contraditórias

Usando a classificação de Popper , poderíamos pensar em sociedades abertas ou fechadas. Prevalece, no primeiro caso, a livre empresa sob condições de igualdade de oportunidades e, no segundo, a tentativa de controle total da sociedade por meio do planejamento centralizado. A transformação social ocorreria, no primeiro caso, a partir de inúmeros experimentos descentralizados de melhorias sociais enquanto, no segundo, essa transformação deveria ocorrer pela completa reestruturação do sistema social, a partir de um experimento único e total. Numa linha aparentemente semelhante, porém com sutilezas que a torna bastante diferenciada, favorecendo um individualismo exacerbado, Hayek afirmou que o verdadeiro dilema está entre lutar pela liberdade do indivíduo ou sucumbir à servidão do coletivismo. Nas suas formas extremas, tanto a sociedade fechada quanto a sociedade aberta evoluem para a barbárie, redundando quer no capitalismo selvagem, quer no totalitarismo selvagem.

Popper e Hayek são dois dos mais expressivos intelectuais que tomaram o partido do liberalismo, do indivíduo e do capitalismo a partir do antagonismo gerado pelas posições de Adam Smith e Karl Marx. Smith e Marx são defensores clássicos de visões de mundo contrárias que, até o momento, falharam em suas promessas de construir um mundo em que prosperidade e justiça pudessem conviver lado a lado. Se a visão liberal de Smith levou ao capitalismo selvagem, gerando as monstruosidades apontadas por Marx, a visão coletivista de Marx produziu monstruosidades como o stalinismo. Para alguns analistas, o nazismo teria sido a prova de que, nos extremos, esquerda e direita têm em comum o autoritarismo arrogante e arbitrário.

Julgados a partir de suas declarações de valores, nem Smith nem Marx desejavam os efeitos negativos que decorreram da aplicação dos sistemas sociais que preconizaram. Ambos podem ser considerados como homens de alto nível moral que, sem conhecimento suficiente, basearam-se em crenças sobre como o mundo deveria funcionar. Porém, suas crenças, transformadas em dogmas, originaram sistemas iníquos cuja única validade está em apontar o que não se deve fazer no futuro no processo de construção da sociedade justa. Como diz um ditado popular, o capitalismo e o comunismo reais mostraram-se, historicamente, o oposto um do outro: enquanto, no capitalismo, o homem é explorado pelo homem, no comunismo ocorre exatamente o contrário.

O capitalismo selvagem gerou sofrimento insuportável para muitos, embora acenasse com a possibilidade de sucesso sem limites para o indivíduo trabalhador e poupador. O socialismo real distribuiu a escassez, mas não promoveu a prosperidade e a liberdade. A social-democracia, o sistema social que conseguiu compatibilizar igualdade, justiça e prosperidade, tem mostrado sinais de esgotamento. No Brasil, há indícios de que prevaleceu, por muitos anos, um sistema eclético em que a iniciativa privada, bastante limitada, articulou-se com funcionários públicos privilegiados para privatizar lucros e socializar prejuízos. Atualmente, pode-se dizer que os defensores do socialismo perderam uma grande batalha, enquanto os defensores do individualismo não ganharam completamente a guerra. Fala-se numa terceira via que, em última análise, ninguém sabe exatamente do que se trata. Na ausência de melhor conceito, assume-se que a economia está sendo globalizada.

Os países desenvolvidos desejam colocar suas mercadorias em todos os pontos do planeta, sem restrições, embora criem restrições seletivas a que as mercadorias altamente competitivas dos países em desenvolvimento sejam comercializadas livremente em seus territórios. Assume-se que a sobrevivência, no mercado globalizado, será garantida apenas para as organizações gigantescas, flexíveis e ágeis, capazes de se recriarem o tempo todo, alinhando-se com o ambiente imprevisível, ou para organizações pequenas ou médias baseadas em alta tecnologia. Defende-se que os capitais tenham livre curso para entrar e sair dos países de acordo com a sua capacidade de remunerá-los. Nesse ambiente, a competição torna insuportável a vida das pessoas que têm carência quanto a saúde, disciplina, organização e educação de qualidade. A exigência de feroz competição pela sobrevivência choca-se contra a exigência cristã de cooperação para que haja vida abundante para todos.


O Homem Idolatra a sua Obra

Uma das mais contundentes descrições sintéticas do capitalismo foi feita por Campos , expondo as forças e fraquezas que lhes são inerentes:

“(1) O mercado ocupa-se essencialmente dos bens que podem ser objeto de transações entre agentes econômicos, vale dizer, que têm valor de troca; se isso coincide, ou não, com valores de outra ordem, culturais, humanísticos, ou o que seja, depende do que as partes queiram; (2) O mercado tem também certa tendência a dar mais ênfase ao curto prazo, ou, como diríamos em economês, aplica uma taxa de desconto alta ao fator tempo; dessarte, a rentabilidade imediata é freqüentemente preferida à de longo prazo; (3) Além disso, ele é uma arena implacável: a vantagem vai para quem produza mais e melhor a menores custos; o princípio da eficiência predomina sobre os aspectos distributivos – o que muita gente acha alienante e desumano; 4) O mercado é inerentemente sujeito a perturbações cíclicas, ou seja, o processo de volta ao equilíbrio não é tão rápido que torne pouco significativos os fenômenos de recessão, falência e desemprego, que podem acontecer durante o período de ajustamento.” Campos acrescenta: “
Apesar de tudo é o sistema que até hoje melhor conseguiu atender ao tríplice objetivo da liberdade política, eficiência econômica e progresso social.”

Marx, ao assumir o capitalismo como uma etapa necessária à liberação das forças produtivas da sociedade, ressaltou o quanto, em sua época, ele embrutecia o trabalhador e descaracterizava o papel civilizador do trabalho, conforme se pode ver no trecho a seguir, selecionado de sua obra Ideologia Alemã, por Denby : (...) “É verdade que o trabalho produz para os ricos coisas maravilhosas – mas para o trabalhador ele produz privação. Produz palácios – mas, para o trabalhador, choupanas. Produz beleza – mas, para o trabalhador, deformidade. Substitui o trabalho por máquinas – mas joga alguns trabalhadores de volta a um tipo bárbaro de trabalho e transforma os outros em máquinas. Produz inteligência – mas, para o trabalhador, idiotice, cretinismo.” A solução marxista para a organização social, centrada na extinção da propriedade privada, falhou espetacularmente, embora tenha tido um período de grande sucesso inicial. Freud já previra esse insucesso no livro O Futuro de uma Ilusão devido, segundo ele, à adoção de uma teoria errônea sobre a natureza humana.

Fromm assinalou, baseado na análise do mundo na década de 60, incluindo as perspectivas capitalista e socialista da época, que “Os homens são, cada vez mais, autômatos que fazem máquinas que agem como homens e produzem homens que agem como máquinas; a razão se deteriora, enquanto sua inteligência aumenta, criando com isso a perigosa situação de dar aos homens um formidável poderio material, sem a prudência de saber usá-lo. (...). O perigo do passado era tornarem-se os homens escravos. O perigo do futuro é que eles se podem tornar autômatos. É certo que os autômatos não se rebelam, mas, levando em conta a natureza do homem, ele não pode viver como um robô e continuar mentalmente sadio – destruirá o mundo e a si mesmo, porque já não poderá suportar a monotonia de uma vida sem sentido.”

A competição, como uma espécie de religião universal, tem os seus teólogos e pregadores. Eles podem ser ateus, cristãos ingênuos, filósofos, cientistas e professores; esquecem-se de que a cooperação também faz parte da natureza humana, sendo vital à sobrevivência da espécie . Alguns indícios dos princípios fundamentais dessa religião podem ser encontradas nas declarações públicas de altos executivos e consultores às mais prestigiadas revistas de negócios. A revista Exame, de 28/11/01, por exemplo, destaca a mensagem que uma grande multinacional faz questão que seus funcionários guardem no coração: “Toda manhã, na África, quando uma gazela acorda, ela sabe que precisa correr mais rápido que o mais rápido dos leões. Toda manhã, também na África, quando um leão acorda, ele sabe que precisa ser mais veloz do que, pelo menos, a mais lenta das gazelas. Caso contrário, morrerá de fome. Não interessa se você é um leão ou uma gazela. Quando o sol nascer, é melhor que você esteja correndo.”

Outras declarações comuns, que podem ser encontradas em números anteriores da mesma revista são: “Somente os neuróticos sobreviverão”; “Se encontrarem um concorrente morrendo afogado, enfiem-lhe uma mangueira com água sob pressão garganta abaixo”; “Neste processo existirão mortos, feridos e dissidentes. Devemos enterrar os mortos, cuidar dos feridos e metralhar os dissidentes”; “Acredito que a competição é o valor máximo da sociedade. Tento influenciar os líderes do mundo para que a adotem”, disse um dos mais reconhecidos especialistas mundiais no assunto. “Qual é o leitmotiv do capitalismo? A ganância.”, perguntou e respondeu Lester Thurow, respeitado economista americano.

Os números a seguir podem deixar os pessimistas completamente céticos quanto à possibilidade de se atingir prosperidade compartilhada em âmbito global. Eis alguns dados compilados pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social :

“A diferença entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres do planeta era de 11 vezes em 1913, passou para 30 vezes em 1960, para 60 vezes em 1990 e para 74 vezes em 1997. Vinte por cento da população mundial detém 86% da renda. Essas mesmas pessoas concentram 74% das linhas telefônicas e 93% da utilização da Internet.” (...) “A ONU estima que a aplicação anual de apenas 0,6% do PIB mundial seriam suficientes para que toda a população pobre do planeta tivesse acesso à educação, saúde, alimentação e planejamento familiar. “ (...) “O World Watch Institute, de Washington, calcula que o custo total de um programa de seis anos para proteção do solo, reflorestamento, redução do crescimento populacional, renegociação das dívidas dos países emergentes, aumento da eficiência energética e desenvolvimento de fontes renováveis de energia totalizaria 750 bilhões de dólares. Essa é a quantia que o mundo investe, por ano, em armamentos.”

Um relatório da World Vision, avaliando o Estado do Mundo no ano 2000, citando como fonte Barret Johnson, Our Globe, destaca os seguintes valores, em bilhões de dólares, envolvidos em atividades de natureza destrutiva: crime financeiro (2), gastos militares (950), fraude(800), crime organizado(600), tráfico de drogas(150), pornografia(20), jogos de azar(700), sonegação de impostos(180), furtos em lojas(90), crime computadorizado(44). Total: US$ 3,536 trilhões de dólares. O relatório afirma, ainda, que o Banco Mundial apontou um estoque de poupança global de US$13,7 trilhões de dólares disponíveis para serem investidos em mercados que tragam retornos atraentes, típicos dos países em desenvolvimento. Ou seja, embora países como o Brasil, China e Índia sejam atrativos para esses capitais, o investimento é tão concentrado quanto a riqueza.

Os fatos e os dados anteriores mostram que a insanidade liga o passado ao presente. A inteligência, ainda que tenha sido usada em larga escala na transformação da natureza, não tem caminhado junto com a sabedoria. A tecnologia que poderia libertar, e tem libertado a humanidade, tem sido usada, também, para escravizá-la. Quanto mais velozes se tornam as máquinas, mais o homem é convocado a correr para alimentá-las. A competição pela mera sobrevivência transforma muitos trabalhadores em elásticos esticados além dos seus limites de resistência. Por outro lado, alguns trabalhadores que se queixavam da exploração capitalista, hoje se sentem abandonados, invejando aqueles que têm a sorte de serem explorados. O capitalismo humanista dos japoneses parece estar perdendo terreno para capitalismo turbinado americano, transformado em religião universal e obrigatória para todos. O socialismo real, por outro lado, não é elemento de comparação pois, simplesmente, desmantelou-se.

Soros , um especulador bem-sucedido do mercado financeiro, afirma que a ascensão hegemônica da globalização amplificou o potencial de destruição social e ainda erodiu os conceitos morais, transformando tudo a sua volta em mercadoria. Teriam restado apenas os valores monetários, em uma sociedade onde o ser humano passou a ser julgado em função do sucesso obtido a qualquer preço. Ele alerta para o perigo de que, diante dos extremos de uma competição sem regras civilizadas, as pessoas, desorientadas, passem a ansiar por normas rigorosas e a disciplina severa dos sistemas sociais fechados. O alerta de Soros parece hipocrisia, se o considerarmos um beneficiário da injustiça social. Por outro lado, ela representa um alerta para aqueles que acreditam na sobrevivência do mais forte e mais inteligente, além de qualquer senso de compaixão, pois, a longo prazo, como assinalou Nietzsche, o mais apto à sobrevivência pode ser o mais fraco, porém, mais espiritual. Assim, se a razão fosse usada em larga escala, e não apenas a inteligência, a ética humanista prevaleceria sobre a ética biológica.

Quando impera a ética biológica entre os homens, em detrimento da tradição humanista, de origem teísta ou ateísta, desaparece a obrigação de ação sancionada pela moral. Os mais fracos preferem eliminar seus adversários numa “tocaia”, usando a velha espingarda, ou uma simples faca. Os mais fortes e tecnologicamente desenvolvidos fazem suas guerras com armas teleguiadas, evitando grandes perdas de pessoal na luta corporal direta. De uma maneira geral, o povo prefere viver sob sistemas autoritários, mas que lhes dêem alguma segurança. O ataque terrorista ao World Trade Center, no dia 11 de setembro de 2001, mostrou que a situação se complica ainda mais quando motivos políticos, econômicos, religiosos e étnicos se interpenetram de forma irracional.

Os desencontros humanos são profundos. Reunidos em Davos, Suíça, em janeiro de 2001, e em Porto Alegre, Brasil, no mesmo período, os defensores do mercado, no caso de Davos, e os supostos defensores da sociedade, no caso de Porto Alegre, explicitaram suas diferenças. Em Davos defendeu-se a abertura dos mercados para a competição em âmbito global, sob a justificativa de que isso daria mais oportunidade aos países pobres. Em Porto Alegre defendeu-se a globalização total das oportunidades de uma vida digna. A única certeza que ficou para o público é a de que não há solução mágica à vista para os problemas da humanidade e do Brasil.


O Brasil sob Enfoque Pessimista (veja em seguida o enfoque otimista)

Os desafios à transformação social no Brasil não deixam grandes margens de ação para os pessimistas. Apesar de o País estar entre as 10 maiores economias do mundo, são péssimos os números que medem sua qualidade social. Os10 % mais ricos da população retêm 50% da renda nacional, enquanto os 10% mais pobres detêm apenas 1%. Os números que medem a miséria e a pobreza variam entre cerca de 14 milhões, se consideradas apenas as pessoas em condições miseráveis, até cerca de 50 milhões, que incluem as pessoas consideradas pobres. Computados todos os tipos de violência chegou-se ao ano 2000 com o impressionante número de 130 mil vidas ceifadas. A indústria de segurança já representa cerca de 7% do PIB. Desde 1996, a produção de carros blindados foi multiplicada por 10. O País ocupa o humilhante 69 lugar quanto ao IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, e o 125 quanto à saúde.

A revista Veja, de 23/01/02, pp. 82-93, traça um vergonhoso quadro da miséria brasileira. Destaca que o Brasil é o mais rico entre os países com maior número de pessoas miseráveis. Se considerarmos os países na mesma faixa de renda do Brasil, entre 3 500 e 6 000 dólares, teríamos os seguintes percentuais de pobreza: Brasil, 34; Costa Rica, 19; México, 15; Chile, 15; Malásia, 7 e Bulgária, 4. Países com taxa de pobreza semelhante à do Brasil, entre 28% e 34%, estão numa faixa de renda per capta, em dólares, muito menor que a nossa: Brasil (3 400); Panamá (2 800), Botsuana (2 400), República Dominicana (1 600), Mauritânia (800), Guiné (700). 45% das pessoas com até 15 anos de idade estão entre os miseráveis, o que compromete seriamente o futuro do País. A distância entre a renda dos 20% mais pobres e a dos 20% mais ricos é de 33 vezes no Brasil, contra 3 vezes na Polônia, 4 vezes no Japão, 8 vezes nos Estados Unidos, 13 vezes no México e 30 vezes na Guatemala.

O movimento para melhorar a competitividade brasileira na década de 90 trouxe significativos resultados em termos de aumento da produtividade na indústria, evoluindo do índice 100 em 1994, para 143 em 1998, enquanto os salários dos trabalhadores evoluíram do índice 100 para 81,9 no mesmo período. As condições de trabalho deterioraram-se significativamente, com o índice de doenças do trabalho evoluindo de 100 em 1993, para 192,7 em 1997. Enquanto o desemprego aumentou no período 1994 a 1998 em cerca de 50%, cerca de 40% dos trabalhadores empregados fizeram horas extras .

Muitas empresas convidam seus empregados para um envolvimento total com a sobrevivência, mas tão logo eles tornam a empresa mais eficiente são dispensados como desnecessários. Muitas dessas empresas realmente não sobreviveriam se não diminuíssem seus quadros de pessoal, pois tornaram-se displicentes quanto ao uso eficiente de seus recursos. Outras sacrificam empregos forçadas pela bolsa de valores, que as julga permanentemente, na maioria das vezes para garantir as pensões de trabalhadores aposentados. Algumas poucas, diga-se de passagem, sacrificam empregos por mera irresponsabilidade, sobrecarregando os trabalhadores restantes com uma carga de trabalho física e mental insuportável, gerando desespero, doenças e mortes.

As dificuldades não se limitam aos trabalhadores. Cerca de 70% das empresas morrem com menos de cinco anos de idade. Empreendimentos considerados sólidos desabam-se abruptamente diante da competição e das mudanças de rumo da economia. A única certeza atualmente é que, apesar de não haver garantia de sucesso no mercado competitivo, indivíduos e organizações que não se alinham com as necessidades do mercado e da sociedade, e não administram os seus recursos com extremo cuidado e competência, são excluídos com maior rapidez.

Paradoxalmente, os desafios da competição parecem trazer consigo a necessidade de uma nova relação capital-trabalho, mais justa e inteligente, sem a qual todos perderão. A necessidade de forte coesão interna para sobreviver no mercado foi esclarecida num famoso discurso do grande empresário Matsushita - criador, entre outras, da marca Panasonic -, a empresários americanos, ainda na década de 80: “A competição hoje é tão complicada e difícil; a sobrevivência de uma firma corre tantos riscos a todo instante; o ambiente é tão imprevisível, competitivo e arriscado que, para se obter sucesso sustentável é preciso a mobilização da inteligência de cada um dos funcionários da empresa.”

Realce-se o trecho a seguir do discurso do primeiro ministro de Singapura na abertura da 7a Conferência Internacional sobre o Pensamento, realizada entre 1 e 6 de junho de 1997 naquele pequeno, mas altamente competitivo país: “A riqueza de uma nação no Século XXI dependerá da capacidade do seu povo de aprender. Sua imaginação, sua habilidade de buscar novas idéias e tecnologias e de aplicá-las em tudo que fizerem será o recurso-chave para o crescimento econômico. Sua capacidade coletiva de aprender determinará o bem-estar da nação.”

As circunstâncias forçam que se submeta o progresso da ciência aos interesses do progresso social. De fato, a ciência e a tecnologia existentes são mais do que suficientes para melhorar a vida num país como o Brasil. Sabe-se, por exemplo, que entre 20 e 30% do PIB são desperdiçados por displicência, maus hábitos ou incompetência na gestão de recursos; basta, portanto, aplicar o bom senso para melhorar as condições de vida do povo. Temos que decidir viver com dignidade, ainda que pobres, ou perecer por preguiça, incompetência e irresponsabilidade. Ilustremos algumas possibilidades alimentadoras de esperança.


O Brasil sob Enfoque Otimista

As possibilidades individuais de realização, no sistema capitalista, estão ligadas a: energia pessoal, trabalho árduo, poupança, intuição, gosto pelo risco, capacidade empreendedora etc.. Ao citar-se o sucesso de países como Japão, Alemanha, Singapura e Taiwan, quanto à possibilidade de enriquecimento de um povo num curto espaço de tempo, fica a impressão de que, por uma questão cultural, os brasileiros são passivos e inertes diante do mercado. Porém, segundo o relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM), patrocinado pela consultoria Ernst & Young e pelo Instituto Kauffman, o Brasil é o País com o maior índice de empreendedores do mundo, embora o brasileiro seja educado basicamente para ser empregado e seu elevado nível de empreendedorismo se dê em atividades de baixa tecnologia .

O potencial da economia brasileira foi exaltado em documento do influente Conselho de Relações exteriores dos Estados Unidos , atribuindo ao País a condição de quinto maior mercado consumidor do planeta, com alguns números impressionantes: “Primeiro produtor e exportador de suco de laranja, café e açúcar, além de primeiro criador de gado; segundo receptor de investimentos externos produtivos entre os países em desenvolvimento; segundo produtor e exportador de soja e consumidor de jatos executivos e helicópteros, analgésicos, telefones celulares e aparelhos de fax; terceiro consumidor de motocicletas e refrigerantes; quarto fabricante de aviões comerciais e consumidor de geladeiras e freezers; quinto consumidor de CDs de música e quinto produtor de leite; sétimo em número de veículos em circulação e sétimo exportador de calçados; oitavo em número de cartões de crédito e nono produtor de carros. O documento destaca, ainda, que o Brasil é o líder dos países emergentes, e não apenas da América Latina, além de ser o país latino-americano menos ameaçado pelo poder do tráfico de drogas.”

Um número crescente de iniciativas têm sido tomadas no sentido de mobilizar o potencial do povo brasileiro para superar suas dificuldades. O Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade, por exemplo, congrega cerca de 5 mil organizações, envolvendo mais de 900 mil pessoas comprometidas com a busca da qualidade em todas as suas dimensões. A União Brasileira para a Qualidade – UBQ, tem contribuído para transformar as organizações em verdadeiras Universidades, promovendo o desenvolvimento dos trabalhadores em seus locais de trabalho, sem restrições quanto à sua educação formal. Seus encontros são verdadeiros shows onde operadores, gerentes, engenheiros e outros especialistas mostram sua competência na solução dos mais diversos problemas, em ambiente de grande alegria.

Alguns problemas crônicos, quando enfrentados de frente, apresentam soluções simples e baratas, apesar de exigirem coragem quase heróica para enfrentar as barreiras mentais que se interpõem à sua solução. A revista Veja, de 28/3/01, pág. 76, apresenta a impressionante solução encontrada pela Pastoral da Criança para a mortalidade infantil. A Dr. Zilda Arns mostrou que é possível reduzir drasticamente o índice de mortalidade infantil gastando apenas R1,00 por criança/mês, a partir de cuidados elementares com as condições de higiene e nutrição. Entretanto, ela teve de lutar contra as resistências da esquerda e da Igreja para atacar o problema da forma correta. A Dr. Zilda declarou que: “A esquerda criticava por não lutarmos por saneamento. A Igreja, porque pesávamos as crianças em vez de evangelizar.” Quantos problemas dessa natureza estão à espera de alguém com coragem e determinação para fazer o óbvio. Infelizmente, fazer o óbvio pode ser muito difícil, pois, muitos especialistas e intelectuais em postos-chave buscam o rigor técnico em temas sem relevância social, e se julgam importantes demais para se envolverem com os problemas reais cuja solução exige apenas determinação e bom senso.

Recentemente, pesquisando algumas empresas envolvidas com a Cultura 5S, percebi que algumas delas usaram o conceito para desenvolver uma gestão participativa e socialmente responsável. A Mineração Rio do Norte, por exemplo, mobilizou uma cidade de 5200 habitantes, no interior da floresta amazônica, para a obtenção do certificado IS0 14001, além de ter criado oportunidades educacionais para 100% das pessoas em condições de estudar. Ao mobilizar as pessoas para a realização dos seus potenciais em condições dignas a empresa ganhou, como recompensa, uma redução geral dos seus custos, ao longo de dez anos, de cerca de 50%. A Construtora Andrade Gutierrez aplicou o 5S em mais de cem obras, no Brasil e no exterior, integrando qualidade, saúde pessoal e ambiental e produtividade. A empresa treinou mais de 25 mil pessoas com a filosofia de ajudar a construir melhores cidadãos, independentemente de eles continuarem ou não na empresa. Existem dezenas de outros casos de sucesso, mostrando que basta mobilizar as pessoas, com bom senso, para se criar as bases para uma existência respeitável.

Enfim, milhares de pequenas histórias de mobilizações transformadoras mostram que há um excelente clima para a construção de uma sociedade próspera e justa no Brasil, atenuando as estatísticas que alimentam o pessimismo. Cerca de 20 milhões de voluntários já estão colocando suas forças mentais e corporais na causa da transformação social. O Brasil já está sendo transformado, mas é preciso acelerar o processo.


Considerações Finais

O capitalismo, definido como intrinsecamente incompatível com a realização humana plena, não impõe soluções desumanas, apenas permite. Suas regras podem ser humanizadas pela sociedade esclarecida, por meio do voto e da participação efetiva das pessoas, embora essas regras internas tenham limites impostos pela competição no plano global. Os países capitalistas mais desenvolvidos apresentam os mais altos índices de desenvolvimento humano. Os críticos do sistema afirmam que as suas vantagens para os países ricos são a contra-partida das desvantagens dos países pobres e em desenvolvimento, não havendo margens para a construção de sociedades realmente justas em larga escala.

O socialismo real, por outro lado, não cumpriu as suas promessas. A social-democracia trouxe os maiores benefícios, mas está sendo reformulada. O humanismo esclarecido, teísta ou não, tem um núcleo de intenções que, se colocadas em prática, traria justiça, prosperidade e paz. Todas as grandes filosofias e religiões têm um núcleo comum de bom senso passível de ser evocado e aplicado com apoio universal. O ecumenismo social é possível e necessário, ainda que persistam diferenças nas visões de mundo de cada grupo humano organizado.

Há inúmeras evidências de que é muito simples fazer mudanças positivas no Brasil, embora não seja fácil. Percebe-se uma grande ânsia por justiça e bem estar, mas nem todos têm a iniciativa de fazer o que está ao seu alcance. A imprensa tem mostrado que muitos dos postos-chave, no executivo, no legislativo e no judiciário, foram ocupados por pessoas que se aplicaram a usufruir dos recursos públicos, criando, inclusive, a ridícula figura jurídica do direito adquirido, ainda que mal. Muitos políticos mantêm-se no poder pela distribuição de migalhas ao povo carente. Mas essas são as condições reais, e não há como esperar que elas mudem para se começar a agir.

Se alguns acreditam que “o homem é o lobo do homem”, outros acreditam que “o homem esclarecido é deus para o homem ignorante”. Sob o olhar impassível da história, o homem é o problema mas é, também, a solução, de acordo com a fonte do poder que julgue conduzi-lo para alcançar a finalidade última de sua existência. O comportamento moralmente elevado, por si mesmo, orienta os verdadeiros filósofos e cientistas; Deus é a fonte de poder dos cristãos que, pelo menos em termos nominais, constituem a maioria do povo brasileiro. Filósofos, cientistas, cristãos e ateus, por sua vez, estão sendo impelidos a agir como cidadãos unidos pelo interesse comum de preservar a sociedade. Já que o ecumenismo religioso não parece ter futuro no mundo atual, pode-se explorar as possibilidades de um ecumenismo social.

Já sabemos tudo de que precisamos para acelerar a transformação social brasileira. Urge acelerar os movimentos de transformação em curso, porém, seguindo a ordem natural das coisas. Que cada pessoa, onde estiver, individualmente ou equipe, atue para construir um ambiente de qualidade em torno de si, em termos físicos e sociais, respeitando as leis naturais. Quando essas leis não forem conhecidas, que a ação leve em consideração aqueles princípios universais legados pela filosofia e pelas religiões históricas: “fazer sempre aquilo que possa ser tomado como regra universal”, agir com “fé, esperança e amor” ou, numa linguagem secular, agir com “confiança, visão de futuro e solidariedade”.

Que cada brasileiro inicie a construção do País que deseja legar aos seus descendentes a partir do local onde estiver. Que faça faxinas, organize o ambiente em torno de si, torne tudo mais transparente e visível, cuide da própria saúde e da saúde ambiental, conserve os recursos materiais e que, sobretudo, aprenda a aprender. Que a educação seja redirecionada para a transformação social, desenvolvendo pessoas competentes, íntegras e solidárias. Sabemos que uma viagem de milhares de quilômetros começa sempre pelo primeiro passo. É assim que mudaremos o Brasil e daremos um bom exemplo para a humanidade!


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
POPPER, K Raimund. A Sociedade Aberta e Seus Inimigos. Ed. Itatiaia/Ed da USP, 1987.
HAYEK, F. A . O Caminho da Servidão. Expressão e Cultura: Instituto Liberal, 1987.
CAMPOS, Roberto. Antologia do Bom Senso. Topbooks, 1996.
DENBY, David. Grandes Livros. Record, 1998.
FROMM, Erich. O Dogma de Cristo. Zahar Editores, 1978.
OGBURN, William F. & NIMKOFF, Meyer F. Cooperação, competição e conflito. In: CARDOSO, Fernando H. & IANNI, Octávio. Homem e Sociedade. Companhia Editora Nacional, 1973, pp 236-61.
G GRAJEW, Oded. Por Um Mundo Mais Seguro: a crise mundial coloca em evidência a responsabilidade social das empresas na busca e na construção de uma sociedade mais justa. Guia da Boa Cidadania Corporativa, 2001, pp. 20-21. (Parte integrante da edição 754 da revista Exame, de 28/11/01)
SOROS, George. A Crise do Capitalismo. Campus, 1988.
FONTES DIVERSAS: Fundação Seade/DIEESE, IBGE, FGV, Anuário Estatístico da Previdência Social e Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada.
Revista EXAME, Ano 35, No. 4, 21/02/01, pág. 18.
Revista VEJA, Ano 34, No. 7, 21/02/01, pág. 44.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O trabalho produtivo e o trabalhador realizado

Há uma missão implícita em toda organização humana: servir. Seu direito à existência está condicionado à realização dessa missão. Se não o fizer, a própria sociedade civil se incumbirá de restringir-lhe ou de impedir-lhe o direito de existir, inclusive mudando a natureza do sistema de organização social vigente.

Entretanto, visto sob a perspectiva genérica do ser humano, pode-se dizer que a missão da organização humana em geral é tornar o trabalo produtivo e o trabalhador realizado. A riqueza potencial foi herdada pela homem, e está na natureza exterior e interior a si. Sua exploração exige a organização do trabalho, combinando-se o talento individual com o trabalho coletivo.

O crescimento humano, ou a transformação do homem natural em homem civilizado, depende do trabalho. Mas o trabalho que lhe permita realizar o que há de melhor em sua natureza. Sob o ambiente apropriado, o homem descobre-se dependente do outro. Ele percebe sua dependência da natureza e, ao mesmo tempo, percebe-se parte da natureza e, no seu íntimo, transcendente a ela.

O trabalho precisa ser produtivo para que o homem tenha tempo para conhecer-se melhor e viver e explorar a vida junto com o outro. Ele precisa saber usar o tempo e, enriquecendo-se, saber usá-lo da forma reflixa preconizada pelos grandes filósofos. No limite, poderá transcender a perspectiva da vida na Terra, e expandir sua contemplação à vida do espírito transcendente às condições da vida material.

Assim, trabalhando de forma produtiva, o homem aprende a viver. E isso implica realizar-se. Ele pode sentir a alegria do trabalho bem feito, a alegria de partilhar o seu trabalho, e a alegria de "comer o pão com o suor do próprio rosto". O trabalho, sob essa perspectiva, é um ingredinte vital da saúde mental. E a saúde, como dizem os dicionários, significa, entre outras coisas, salvação e conservação da vida.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Quando o sucesso se torna um fracasso

A escola tem procurado motivar os alunos com a ideia de que estudar é necessário para que se tenha sucesso na vida. Esse pressuposto soa estranho para alguns alunos, posto que os professores consideram-se, geralmente, mal-sucedidos na vida.

Verifiquei isso pessoalmente em Manaus, quando lá estive em 2002. Uma professora reclamou que ganhava menos do que um aluno seu que vendia pipoca na rua. Sua alegação de que estudar é a base do sucesso ficou sem crédito.

Contudo, as estatísticas mostram claramente que os trabalhadores de mais alta escolaridade têm salários significativamente maiores do que os dos demais. Mas, pode o sucesso ser medido apenas pelo retorno financeiro? Sabemos que os maiores corruptos geralmente têm diploma universitário.

Como lembrou-nos Chesterton, "É perfeitamente óbvio que em qualquer ocupação decente (tal como assentar tijolos e escrever livros) há somente dois modos (em qualquer sentido especial) de obter sucesso. Um deles é fazer um trabalho muito bom, o outro é trapacear."

Um dia desses uma pessoa que ocupa um importante cargo no Ministério da Educação afirmou, em reunião privada, que teve de se prostituir para garantir o seu sucesso acadêmico. Neste caso, a pessoa afirmou que teve de montar um sitema de produção de artigos, e esquecer a verdadeira educação.

Com esse critério de sucesso, o professor não pode pensar em formar o homem integral. Ele precisa fazer trapaças para atingir os números que lhe farão ser considerado altamente produtivo e merecedor de menções e bolsas especiais.

Sob quase todos os aspectos a busca sistemática do sucesso leva ao fracasso moral. É preciso, pois, partir de princípios mais sólidos para que a vida não seja desperdiçada. O sucesso, se atrelado apenas ao aumento do poder de consumir e sentir-se mais importante do que o outro é, na realidade, um grande fracasso.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Em busca da autorrealização

Como todo organismo vivo, o homem tem necessidade de sobreviver, crescer e perpetuar.

Na luta pela sobrevivência, ele necessita de garantir os meios de satisfazer suas necessidades fisiológicas: alimento, vestuário, sexo e habitação, entre outras. O seu crescimento sadio necessita que ele tenha segurança de que suas necessidades fisiológicas serão satisfeitas sempre que se manifestem. Acrescente-se a isso suas necessidades de compartilhar a alegria de viver.

Contudo, o homem não se sente pleno, nem enxerga o futuro, se não realiza aquilo para o qual nasceu. E isso, como conceituou o psicólogo humanista Abraham Maslow, é autorrealização. Segundo Maslow, as capacidades clamam para ser usadas, e não cessam o seu clamor enquanto não forem completamente usadas. O que o homem é em potencial precisa tornar-se realidade no movimemto dinâmico da vida. Se isso não acontecer, ele não alcança a saúde mental plena. Porém, há um sentido ainda mais profundo de autorrealização: o perpetuar a existência plenamente satisfatória além deste mundo relativo.

Há algumas pessoas que não sentem essa necessidade suprema de autorrealização, mas creio que a maioria não poderia sequer viver em paz se essa possibilidade não se lhes afigurasse como a mais cristalina realidade. Sob essa perspectiva, a autorrealização conceituada por Maslow é apenas uma antecipação tosca da verdadeira autorrealização. E isso não é apenas uma opinião. É, ainda, mais do que uma crença em seu sentido fraco. É uma questão de fé - busca ativa da realidade invisível - que antecede o conhecimento prático dessa realidade.

Entendo que todos somos "predestinados" a essa busca, uns mais outros menos. Entendo, ainda, que, no processo de busca, alguns ficam confusos e se perdem no ceticismo e no agnosticismo. Mas creio que todos, ao final, serão obrigados a seguir esse caminho, pois isso lhes foi infundido na essência espiritual.

Assim, viver na Terra, buscando paz e prosperidade, é legítimo. A natureza possui os tesouros escondidos. O homem possui, dentro de si, os mecanismos para explorar esses tesouros. Mas, o verdadeiro tesouro transcende a realidade aparente na qual vivemos. Ele está no campo do espírito invisível e imortal. Quem descobre isso, vende tudo o que tem e investe todos os seus recursos na busca do tesouro imperecível.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Educação para a vida

A educação sistemática visa, no meu entendimento, a acelerar a capacidade de resolver os problemas que os educandos encontrarão pela vida. Como nunca se sabe quais os problemas que cada um enfrentará na prática, deve-se dar a todos os educandos os instrumentos mais gerais para que possam lidar com problemas de forma genérica, mas sempre exemplificando a solução de problemas específicos.

Entre os problemas mais comuns que as pessoas encontram pela vida, citam-se, entre outros: como conquistar e manter uma boa saúde; como tornar-se indepente financeiramente; como compatibilizar os interesses pessoais com o interesse coletivo. Entretanto, chamou-me a atenção o problema central da saúde.

Creio que não adianta antecipar nenhum tipo de sofrimento quanto à questão da saúde. Por outro lado, não é sábio deixar que os jovens cresçam totalmente despreparados para enfrentar essa realidade. O primeiro Buda, segundo consta da tradição, foi protegido da visão dos males do mundo e, por isso mesmo, ao ter contato com eles, entrou em profunda crise existencial. No seu caso parece que isso foi bom para a humanidade, pois estimulou-o a buscar o conhecimento profundo de si mesmo.

Ao visitar um Hospital, verifiquei que o câncer, por exemplo, não faz acepção de pessoas. Qualquer um pode ser a vítima. Vi o fumante com câncer no pulmão, e o alcoólatra com cirrose. Mas vi que o abstêmio, embora em menor escala, não está livre do câncer típico do fumante e do alcoólatra. Assim, é necessário precarver-se, mas não há garantia de que isso seja suficiente.

O remédio mais efetivo contra as doenças consiste em, além de se tomarem os cuidados necessários para a preservação da sáude, aprender a tornar-se imune ao medo da morte. E esse preparo deveria, em minha opinião, fazer parte da educação. Uma educação para a vida não pode ignorar que o homem nasceu para morrer.

A educação do homem integral deve levar em consideração a compreennsão das condições da existência. O trabalho, a saúde, o respeito pelo outro e pela natureza devem ser incentivados lado a lado com o ensino da leitura, da escrita e do empreendedorismo, entre outros aspectos. Como pano de fundo, a filosofia, a história das religiões e o domínio do método científico devem compor o grande quadro da educação para a vida.

Não basta formar o especialista. É a formação do homem integral que está em jogo. Os cidadãos precisam ter uma visão sistêmica da vida e, sobretudo, aprender a resolver os problemas típicos da existência.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Disciplinados pela dor

Quem não se autodisciplina, de alguma forma é disciplinado. Algumas vezes pela dor.

Ao acompanhar um parente no setor de oncologia do Hospital das Clínicas da UFMG, ouvi uma interessante história que ilustra a situação.

Um dos pacientes, que impressionava pela compleição física, disse que estava saindo vencedor de uma luta de cerca de dois anos contra um câncer considerado intratável.

Ele fora várias vezes desenganado pelos médicos. Numa delas até o enfermeiro correu dele quando percebeu que, após ter sido dado por morto, recuperou-se completamente e foi capaz de chamá-lo pelo nome.

A lição de disciplina pela dor contada pelo paciente: - Antes da doença, ninguém podia pisar no meu pé. Eu achatava o adversário com um murro certeiro. Com a doença, percebi que não sou ninguém. Amansei.

Esse paciente, de histórico de brutalidade, estava muito feliz. Conversava com outro paciente que também se considerava fruto de um milagre.

Ambos gargalhavam ao contar suas histórias. Diziam que, apesar das dores, já estavam com saudade do ambiente do Hospital, pois ali fizeram muitos amigos e aprenderam o seu verdadeiro lugar no mundo. Ambos reconheceram ter sido disciplinados pela dor.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Minha aprendizagem com o Prof. Élcio Coelho

O que aprendi com o Professsor Élcio Marques Coelho, sepultado no dia 28/05/2010, em Belo Horizonte:

1. o respeito à individualidade;
2. que a única coisa que vale a pena na escola é ensinar o aluno a ser autodidata. Para isso ele precisa reaprender a ler como pesquisador;
3. que a engenharia consiste, em sua essência, em pesquisar e comunicar o resultado da pesquisa;
4. que é preciso aprender a fazer analogias e estar pronto para aprender com qualquer área do conhecimento;
5. que qualquer um pode adquirir o nível de mestre ou doutor, desde que aprenda a pensar e a experimentar;
6. que não adianta se estressar, pois a vida tem o seu próprio rítmo e não nos leva em consideração nos seus planos.

Perdi um amigo, mas suas lições são eternas. Como professor, procuro transmiti-las aos meus alunos para que eles acelerem sua formação profissional e humana.

Muito obrigado pelas lições, meu amigo.

Que Deus o acolha alegremente.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

A sabedoria em ação

Nos tempos antigos - na Grécia, por exemplo -, a sabedoria atingiu um alto valor. Mas tratava-se de uma sabedoria contemplativa. O trabalho era destinado aos escravos.

Penso que, entre a sabedoria como algo contemplativo, e a ação sem sabedoria, o meio termo justo está na sabedoria em ação.

Os tesouros escondidos na natureza podem e devem ser explorados, mas tendo em vista a sustentabilidade da civilização.

A ação pura leva ao consumo destrutivo. A contemplação pura permite que muitos vivam miseravelmente em meio à riqueza mal distribuída. Só a sabedoria em ação pode apontar para a vida plena.

Podemos ver nessa postura um sinal de maturidade do ser humano. É algo raro, mas os exemplos a esse respeito são animadores o suficiente para que essa via seja buscada com persistência.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O poder criador da mente

O Poder Criador da Mente. Este é o nome do livro de Alex Osborn, publicado pela primeira vez em 1953. Ele descreve um método para extrair da mente ideias poderosas: a tempestade de ideias, também chamada de brainstorm ou, na forma escrita, de brainwriting.

O pressuposto é que cada mente individual absorveu certa quantidade de ideias, e que pode combinar ideias enquanto pensa de forma livre. Ao reunir as ideias de muitas mentes, podem-se extrair ideias brilhantes a serem colocadas em prática. Na atualidade, com a rede mundial de computadores, podem-se fazer tempestades de ideias em segundos, envolvendo as melhores mentes já produzidas pela Humanidade.

Embora cada mente seja finita, ela não conhece os próprios limites. Algumas pessoas, por isso, referem-se ao poder infinito da mente. Contudo, seria mais correto referir-se ao poder indeterminado da mente. Isso posto, pode-se buscar avançar todos os limites conhecidos, realizando-se façanhas antes julgadas impossíveis.

O avanço fantástico do conhecimento científico está dentro desse contexto. Coisas nunca antes imaginadas, ou apenas imaginadas, mas consideradas utópicas, tornaram-se reais. Elas refletem a materialização de ideias, que se tornam imagens, que eventualmente são construídas materialmente.

Então, embora o finito não possa abarcar o infinito, talvez não haja limites conhecidos para o que a mente finita pode imaginar e realizar. Ela avança sempre visando a tangenciar o próprio limite. Este, por sua vez, continua desconhecido.

Prossigamos, então, na luta pela construção de um mundo melhor para todos. Agora imaginando uma grande mente, formada de todas as mentes, e que alimenta cada mente individual. A Mente Mestra aparente está na rede mundial de computadores; mas, onde está a Mente Mestra verdadeira?.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Purificação mental

Penso que um dos maiores desafios do ser humano é submerter-se a um processo de purificação mental. Isso pelo fato de, necessariamente, a mente estar contaminada pelo organismo que luta pela sobrevivência individual sem levar em conta que a sobrevivência só faz sentido se for de natureza coletiva.

É como se a mente fosse o ouro amalgamado ao mercúrio. O processo de purificação passa pela destilação, sob elevada temperatura. Sendo a própria mente o ouro, ela sente os efeitos da alta temperatura. Sofre até que se purifique no doloroso processo de destilação. Entretanto, enquanto existe no corpo, essa purificão não pode ser completa.

Quanto mais identificada com o organismo, mais a mente parece real. Ela sempre parte do mundo e aceita a competição como inevitável. Aceita que o mais forte e esperto tem o direito de sobreviver em detrimento dos demais. Ela diz: - peço passagem aos fracos e indecisos. E mais: - sou matéria, existo na matéria e devo realizar-me na matéria.

Quando atinge certo grau de pureza, a mente não se prende ao mundo cão. Ela pode muito bem imaginar-se vivendo no mundo ideal, mas compartilhando sua vida entre os fracos e indecisos no mundo real, porém ajudando-os a realizar os seus potenciais mentais. A solidariedade universal torna-se uma utopia passível de construção pelos homens em associação.

Julgo que o caminho do crescimento humano passa pela busca da saúde mental, ou purificação mental, que gera a alegria de viver e de compartilhar vida em abundância. Um dos caminhos para tal é a associação das pessoas para resolverem problemas comuns em equipe, a partir dos locais onde eles ocorrem.

Vivendo pela fé

Entendo que o termo crença tem um sentido fraco. Até mesmo em sentido religioso. Tiago, o da Bíbia, afirmou que não há mérito em crer em Deus, pois o diabo também crê.

Já o termo fé tem um sentido forte. Até mesmo sob a perspectiva não-religiosa. Einstein, por exemplo, afirmou que suas pesquisas científíficas eram movidas pela fé.

A fé, sob a perspectiva secular, assim como sob a perspectiva religiosa, trata da certeza da existência daquilo que não se vê. Ninguém vê o oxigênio, por exemplo, mas a certeza de sua existência está no próprio organismo que dele tira a vida.

O cientista procura aquilo que não vê. Ele tem fé e, por isso, busca. O religioso acredita naquilo que não vê. Ele tem fé, e por isso busca.

A fé, em seu sentido genérico, está embutida em tudo que cresce e se desenvolve. Vai do mundo mineral, passa pelo mundo vegetal e chega ao mundo animal com mais vitalidade ainda.

No homem, a fé pode tornar-se consciente. Ela o impulsiona a buscar algo que nele existe em potencial, mas que precisa tornar-se atual pelo movimento existencial.

No homem consciente a fé leva à autorrealização. Ele deve tornar-se aquilo para o qual nasceu. Mas, eventualmente, ele se perde por falta de usar sua capacidade de raciocínio, ou por falta da ajuda mínima necessária.

Daí que a fé não pode ser meramente intuitiva, como nos animais. No homem ela deve ser dirigida pela razão espiritual.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ansiedade de informação

Fatos e dados organizados geram informação que, por sua vez, alimenta a dinâmica do conhecimento. Entretanto, tomamos informação por conhecimento, desejando mais e mais quanto mais temos, sem saber lidar com ela.

Pela televisão, internet, materiais impressos e conversas, mergulhamos no oceano da informação sem saber nadar nele. Os alunos fazem provas que exigem cada vez mais memória, mas raramente aprendem a arte de lidar com a informação, e como transformá-la em conhecimento produtivo.

De fato, pouco se aprende a pensar e a pesquisar, embora o progresso na carreira, atualmente, dependa da capacidade de pensar e pesquisar por conta própria para se encontrar a agulha escondida no palheiro.

Recentemente um escritor religioso destacou o fato de ter escrito mais de 120 livros para demonstrar a absoluta simplicidade da essência da mensagem de Cristo: o amor, a fé e a esperança como orientadores da vida prática. Ele fez questão de frisar que após 30 anos de insistência nessa simplicidade, pouca gente compreendeu sua mensagem.

Outra pessoa, autointiluda filósofo, ressaltou que já escreveu mais de 20 mil páginas para ensinar seus alunos a pensar. Entretanto, tem-se a impressão de que ele não foi bem-sucedido em sua empreitada.

Há, nos Estados Unidos, a mania de comprar livros pela relação custo-benefício em relação à quantidade de páginas. Algumas pessoas compram livros em função do seu volume e peso; porém, geralmente não lêem mais do que as primeiras páginas.

As melhores empresas de engenharia aprenderam a lidar com fatos, dados e informação de forma a gerar conhecimento. Geralmente seus relatórios internos são feitos em powerpoint, visando à comunicação imediata num relance de olhar. Elas constituem um bom modelo para se lidar com a informação.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Da imitação à inovação: a dinâmica da civilização

O processo civilizatório, que se pode acompanhar nos bons livros de História, valeu-se das vivências involuntárias, impostas pelas condições de existência, tanto quanto do empreendimento dito científico, isto é, a execução de experimentos intencionais para gerar conhecimento em todas as áreas da vida.

As muitas vivências e os muitos experimentos geraram modos de vida considerados mais ou menos satisfatórios, sob vários pontos de vista. No que se refere à melhoria da qualidade de vida, os avanços foram notáveis. Muitos deles, conforme ressaltou Francis Bacon, foram ocasionais, ou baseados na imitação da própria natureza, em especial os animais construtores, como o João de Barro e o Castor.

Os casos mais recentes do Japão e da Coreia do Sul são exemplos que demonstram o valor de imitar aqueles que conseguiram os resultados que estão sendo buscados. A China segue o mesmo exemplo desses dois países. A imitação, num primeiro momento, é feita da forma que se pode fazê-la, quase sempre com muito sacrifício. Entretanto, em algum momento ela tem de ser uma imitação criativa, sob pena de não se alcançarem os resultados desejados.

O simples nivelamento em relação ao estado da arte da civilização representa um esforço gigantesco. Contudo, as mudanças continuam ocorrendo de forma acelerada por meio da inovação, seja em sentido restrito, de pequenas melhorias, seja em sentido mais radical. O futuro, portanto, exige inovação. E foi isso que a Coreia do Sul aprendeu (veja o livro Da Imitação à Inovação: a dinâmica do aprendizado tecnológico da Coréia, de Linsu Kim).

Em qualquer área da atividade humana, seja para o indivíduo, organizações e países, essa é a sequência natural a ser seguida: imitar, imitar criativamente, e inovar. Assim caminha a civilização sob a perspectiva tecnológica. Resta-nos fazer o mesmo sob a perspectiva cultural.

Como sabemos, a tecnologia pura pode trazer benefícios em termos de bem-estar material, mas pode acelerar a destruição do Planeta se o ser humano não for educado para o consumo saudável. Atualmente percebe-se que o consumo tem tendências altamente destrutivas a médio e longo prazos. Resta-nos, então, cuidar para que o avanço se dê também no nível moral.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Fluindo entre a ansiedade e o tédio

A reflexão a seguir baseia-se no livro A Psicologia da Felicidade, de Mihaly Csikszentmihalyi.

A exigência de desempenho além, ou aquém, do que permitem a aptidão e as habilidades necessárias é veneno para a saúde. Se além, gera-se ansiedade. Se aquém, gera-se tédio.

Entre esses dois extremos está a confortável situação do desempenho máximo possível compatível com a vida saudável do indivíduo: o fluir.

Ao fluir no canal das possibilidades compatíveis com as suas condições de sáude, o homem tem um sentimento de felicidade único.

Para tal, é necessário que os resultados de sua ação sejam passíveis de avaliação a cada momento, incluindo as recompensas atuais e esperança de recompensas futuras. Pode ser que a própria atividade gere essas recompensas.

O alpinista, por exemplo, tem esse sentimento, apesar da periculosidade inerente à atividade. Os bons profissionais de qualquer esporte relatam esse tipo de sentimento.

Certas empresas conseguem criar ambientes propícios ao fluir de cada colaborador, como parece ser o caso, por exemplo, da Microsoft e da Apple.

O grande segredo consiste em criar as condições necessárias e suficientes para que cada pessoa, adequademente selecionada e treinada, caminhe no seu canal caraterístico do fluir.

Contudo, só o indivíduo autodisciplinado, em sentido amplo, está em condições de encontrar esse canal por si mesmo.

sábado, 1 de maio de 2010

Liberdade (Fernando Pessoa)

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A comunicação empática

A comunicação empática é aquela na qual o outro é respeitado, quando na posição de ajudado, ou ambas as partes se respeitam na busca de compreensão mútua. Se uma das partes está na posição de ensinar, ela se comunica de forma que o outro aprenda por si mesmo. Se ambas as partes estão em igualdade de condições, elas dialogam entre si para compreender a realidade visando a transformá-la juntos.

A comunicação empática pressupõe o repeito pelo outro, dando-lhe, inclusive, o direito de cometer erros honestos durante o processo. As regras gerais para tal já foram elucidadas por psicólogos e psicanalistas. Entre esses profissionais, destaca-se Carl Rogers, que estudou a comunicação empática visando a criar relações humanas produtivas. Existem pelo menos quatro regras para que a comunicação gere os melhores resultados.

A primeira regra consiste em ouvir o outro sem preconceitos. Mas isso não é fácil, pois a fala do outro pode chocar-se contra nossas crenças mais profundas. Um exemplo dessa dificuldade pode ser vista quando pessoas em lados opostos, como os radicais de esquerda e de direita, tentam conversar. Geralmente eles não estão dispostos a ouvir, pois partem do pressuposto que são inimigos irreconciliáveis.

A segunda regra consiste em compreender o que o outro está dizendo. Isso implica prestar atenção não só às suas palavras, mas, sobretudo, aos seus gestos aparentemente mais insignificantes. Há necessidade de solicitar retorno sobre a interpretação atual, confirmá-la ou negá-la, e insistir até que ambos estejam de acordo sobre o significado de alguma mensagem, ainda que tenham posições opostas a respeito. Isso é desgastante, mas necessário.

A terceira regra consiste em valorizar as posições do outro com as quais se concorda. Isso dá ao outro a segurança de que está sendo respeitado, ao invés de estar sendo julgado. Entretanto, a comunicação deve ser buscada para se chegar à verdade, o que exige um fechamento do ciclo do diálogo.

A quarta regra consiste em concluir, inclusive destacando os pontos que não ficaram bem esclarecidos e aqueles em relação aos quais não há concordância. Assim, fecha-se um ciclo, porém deixando margem para pesquisas futuras e novas tentativas de compreensão mútua.

Acredito que, excetuando os casos em que os implicados se veem como inimigos irreconciliáveis, há margem para melhorar o processo de se criarem soluções comuns, de forma colaborativa. E isso depende de se dominar o processo da comunicação empática.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A comunicação animal

A comunicação animal é aquela que visa a gerar no ser humano um comportamento animal, isto é, sem visão crítica. Isso vale tanto para sociedades abertas - Estados Unidos, por exemplo - quanto para sociedades fechadas - Cuba, por exemplo -.

A única meta é produzir, no animal que está dentro de cada um, um comportamento que esteja de acordo com o interesse do cumunicador: um voto favorável, o fechamento de uma compra, um determinado comportamento moral. Para isso, apela-se para os instintos mais básicos por meio de mensagens explícitas ou subliminares.

Vi essa comunicação, quando era permitida, em relação ao cigarro. Ele era associado a status, saúde e poder individual. Mas hoje sabemos que é fonte de doenças. Uma empresa chegou a associar bebida alcoólica ao sexo fácil e gostoso, e ainda acrescentou, explicitamente à propaganda "do jeito que o diabo gosta", para excitar os jovens rebeldes.

Visitei um Supermercado que está fazendo muito sucesso com seus diferenciais de atendimento a uma classe de alto poder aquisitivo. Lá, vi a comunicação animal na sua forma mais inteligente. Os produtos são expostos de forma a criar "água na boca", muitas vezes em pequenas embalagens com fundo de isopor. Como sabemos, o isopor é fatal para o meio ambiente.

O resultado da comunicação animal é a formação de mentes robotizadas. Elas se tornam consumidoras dos recursos da Terra, agindo como minhocas que transformam tudo em alimento, e deixando atrás de si buracos e dejetos. Imagino que essa orgia de consumo fácil chegará ao seu limite de maneira natural e catastófica.

Os animais, ao final, serão abandonados e circularão por ai como zumbis famintos e sujos. A situação precisa ser revertida em prol de um Planeta sustentável.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

As três forças primárias que movem o homem

As ações humanas têm três forças primárias que as causam: o instinto, a imaginação e o conhecimento.

Pelo instinto, o organismo é levado a realizar os impulsos biológicos relativos a: fome, excitação sexual, sentimento de propriedade, entre outros. A ação decorrente pode ser do tipo cega, ou estruturada pelo intelecto. No primeiro caso o homem age como um cão abandonado e, no segundo, como uma raposa.

Pela imaginação, cria-se a situação virtual desejada no futuro, seja na Terra, seja no Ceu. A partir dai, entra o intelecto em ação, de forma pragmática, para construir o sonho. Eventualmente, mediante avaliação de cada ação, o próprio sonho é remodelado a partir das possibilidades que se manifestam na situação concreta. Nesse nível de existência, o homem se torna um negociante, mesmo quando é religioso.

Quanto à ação orientada pelo conhecimento, o homem busca descobrir as leis que devem determinar o seu comportamento e, à medida que as descobre, segue-as. Neste caso ele não negocia. Apenas cumpre suas obrigações, ainda que estas sejam desagradáveis num primeiro momento.

Essas três forças agem simultaneamente no homem. Sua evolução rumo à realização do seu potencial espiritual dá-se à medida que prevalece sua tendência de agir com base no conhecimento profundo da realidade. Enquanto caminha visando a descobrir a Verdade, move-se com fé, amor e esperança, pois, como ser finito, seu conhecimento será sempre incompleto.

PS: Homem = Ser Humano.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O professor perfeito

Na minha opinião, o professor perfeito pode ser encontrado entre os que ensinam as primeiras letras, gerando no aluno o prazer de aprender, e entre os que têm foco no ensino da arte de aprender, preparando autodidatas.

Dona Iêda foi minha professora perfeita. Ela me ensinou a ler, a escrever e a fazer as quatro operações quando eu já tinha cerca de 10 anos. Desde então, cresci com o apoio de bons professores, mas, sobretudo, como aprendiz autônomo.

Conheci um professor, na UFMG, que conseguiu ensinar-me sem sua presença. Suas apostilas de matemática eram tão boas que consegui aprender sozinho uma matéria na qual os melhores alunos se davam mal, mesmo tendo aulas presenciais com outros professores.

Julgo ter atingido o nível mais alto quando um professor, sem formalismos, ensinou-me metodologia de pesquisa. Ele não estava preocupado com a capacidade de respostas do aluno a questões de prova, mas em transfomá-lo em pesquisador num sentido bem prático.

Contudo, o professor que mais me impressionou mobilizou alunos para aprender, por conta própria, um assunto que o próprio professor não dominava. Seu papel consistiu em repassar para o aluno o método que havia sintetizado a partir dos seus professores perfeitos e de sua própria experiência como praticante e pesquisador do processo de ensino-aprendizagem. Deu muito certo.

Acredito que seja possível revolucionar o ensino-aprendizagem no Brasil. Basta preparar professores que saibam fazer com que o aluno aprenda, de preferência fora da sala de aula. Assim, o professor poderá dedicar mais tempo àqueles alunos que têm motivos especiais para depender do seu apoio presencial.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Consciência limpa

Quando o homem toma consciência de si mesmo, percebe logo a fragilidade de sua existência material. Compreende que, por necessidade biológica, seu organismo luta apenas pela sobrevivência, ignorando o sentido da vida. Nesse nível animal inferior de existência prevalece o pragmatismo visando a resultados imediatos.

Entretanto, ao tornar-se consciente de sua miséria, o homem pode perceber a grandeza escondida no seu interior. Nessa tomada de consciência evidencia-se a luta entre o eu - ego - e o Eu - o Espírito. A luta é grandiosa, deixa um campo devastado diante de si, mas o Eu será o vencedor da guerra, embora possa, aparentemente, perder algumas batalhas.

Quando o Eu se impõe ao eu, finalmente tem-se um sentimento de profunda paz. Nos momentos em que usufrui dessa paz, o ser percebe que não há diferença entre um torrão de barro e uma barra de ouro de várias toneladas. O dinheiro passa a ser apenas um objeto facilitador das transações necessárias ao bem-estar material. O verdadeiro poder passa a ser visto como o poder de servir ao próximo.

Pode-se, nesse estado, perceber a igualdade fundamental entre todos os seres humanos, sem necessidade de ideologia. A tarefa da transformação passa a ser criar um ambiente apropriado a que outras pessoas acordem para essa realidade. O trabalho individual e coletivo para a limpeza e a ordenação física e social cria condições para o diálogo que estimula a busca da limpeza interior.

O objetivo final é adquirir uma consciência limpa e ordenada, o maior tesouro que o homem sadio pode desejar.

sábado, 3 de abril de 2010

Palavras, imagens e sons

De certa forma, somos reféns de palavras, de imagens e de sons. Talvez isso seja melhor do que sermos reféns da força bruta, mas precisamos tomar cuidado. Esses ingredientes falam diretamente ao inconsciente, e podem acionar sentimentos e ações muito antes que o senso crítico entre em ação.

Os que dizem estar do lado do bem - e quem não diz? - assim como os que representam o mal - quem assume?-, agindo prioritariamente em benefício próprio, tentam ganhar nossos corações e mentes. Suas armas são palavras e imagens com fundo musical programado sob medida. Ambos se apresentam como campeões da lógica, mas agem sabendo que somos mobilizados mais pela emoção.

Hitler explicou, no seu livro Minha Luta, como fazia para influenciar corações e mentes. Ele usava palavras - principalmente via discursos ao vivo -, imagens e sons, sob condições pouco favoráveis à análise crítica. Quanto às pessoas que tinham crenças fortes e contrárias às suas, ou que ousavam pensar, ele preferia eliminá-las fisicamente.

Os marketeiros sabem como funciona o cérebro. Suas técnicas colocam em ação as grandes descobertas a esse respeito, venham elas da guerra ou da psicologia científica. Como ovelhas pastoreadas por lobos famintos, resta-nos tomar conhecimento de como tentam nos manipular. Principalmente nas eleições que se avizinham.

Quanto àqueles que querem os nossos corações e mentes, não prestemos atenção no que eles dizem. Analisemos meticulosamente o seu passado. Devemos deixar claro que conhecemos suas técnicas.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Garantia de qualidade na aprendizagem

A ciência da qualidade nos ensina a trabalhar. Ela pressupõe que tenhamos uma meta, que pesquisemos os meios existentes para atingi-la, e que experimentemos esses meios. Se não há tecnologia corrente para atingir a meta desejada, ela nos incita a pensar até encontrar as ideias inovadoras que valha a pena testar. Essas ideias podem nos ocorrer da forma mais estranha, inclusive em sonhos ou por analogia com fenômenos naturais.

O importante é que saibamos exatamente o que queremos e que insistamos até certo ponto, quando, em função do nosso tempo ou recursos disponíveis, decidamos que nossa meta não é adequada e desistamos dela. Isso funciona para qualquer coisa, desde o desenvolvimento de um produto até o desenvolvimento de um negócio completo. Funciona, também, para o processo ensino-aprendizagem. Mas parece que o sistema de ensino ainda não aprendeu a arte de ensinar. Nem aprendeu como os alunos aprendem. Assim, deixa de aplicar métodos já provados efetivos na ciência, na produção e nos negócios, pois também não acredita em analogias.

O sistema educacional poderia passar por uma verdadeira revolução na aprendizagem e no ensino se pensasse estrategicamente. E isso implica avaliar o tempo todo quais são as metas a serem atingidas com o processo educacional, quais são os meios que já se mostraram efetivos universalmente, e em que situações os meios deveriam ser contextualizados para atender a necessidades específicas. Mas é preciso deixar para trás a mania de dar provas cuja função é punir os que não aprenderam, e partir para usar a prova como um meio de idenfificar quem já aprendeu, quem precisa de mais apoio ou quem está defasado em termos de capacidade de aprendizagem para sua idade.

Assim, os temas a serem ensinados deveriam ser muito bem selecionados, diminuindo considervelmente o excesso de matérias. Cada tema, em função de sua importância, deveria ser abordado até que todos os alunos capazes possam compreendê-lo. Aqueles que aprendem mais rápido devem ajudar os colegas com dificuldades, até que toda a classe tenha o domínio suficiente do tema. Mas isso implica, como já foi dito, priorizar os temas.

Os gerentes e líderes do sistema educacional precisam estudar a ciência da qualidade.

A verdadeira riqueza

Li num jornal que um político muito rico está senil e que o seu espólio está sendo a causa de todos os males pelos quais sua família está passando no momento. Seus filhos e filhas não só brigam entre si pessoalmente e por meio da justiça. Eles se ameaçam de extinção física mútua.

Circulei pela cidade, de taxi, e pude conhecer alguns tipos interessantes: 1) um taxista zangado por trabalhar para terceiros; 2) um taxista feliz por ter a oportunidade de trabalhar para terceiros ao invés de ficar desempregado; 3) um taxista feliz com sua esposa; 4) um taxista infeliz com sua esposa; 5) um taxista muito feliz com sua vida.

Percebi que é verdadeiro aquele ditado de algum antigo filósofo que diz: - "Rico não é o que mais tem, mas o que de menos necessita". Percebi, ainda, que, disponiveis as condições básicas de sobrevivência, a riqueza verdadeira se manifesta àqueles que têm uma vida espiritual satisfatória.

A verdadeira riqueza está no interior do homem. A riqueza material,embora útil, se bem usada, pode ser tomada pelo ladrão, ou consumida rapidamente pelos herdeiros. É comum que ela seja causa de brigas violentas entre irmãos.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Com quem aprender?

Quem tem o coração humilde a a mente alerta pode aprender com qualquer pessoa, em qualquer lugar. Assim pensava o empresário-filósofo japonês Konosuke Matsushita, no século passado.

De uma maneira geral, podemos aprender: 1) com os praticantes; 2) com os sistematizadores; 3) com os analistas.

Os praticantes são a melhor fonte de aprendizagem, de preferência numa relação direta. Os sistematizadores podem ser praticantes ou não. Muitas vezes um não praticante é o melhor sistematizador. Os analistas são, geralmente, acadêmicos com visão crítica. Eles nos chamam a atenção para detalhes que não conseguiríamos enxergar sozinhos, mas podem ter uma visão viciada do tema.

No setor automotivo, o praticante que mais evoluiu nos últimos 50 anos, e tem sido tomado como referência por seus antigos professores, é a Toyota Motors. A sistematização do modelo Toyota tem sua melhor expressão na Gestão pela Qualidade Total - TQM, de Total Quality Management -. Essa sistematização foi feita pela JUSE - Associação de Engenheiros e Cientistas Japoneses. Os analistas críticos são muitos, e não consigo lembrar-me de algum que valha a pena ser citado no momento.

A aprendizagem, conforme sabemos hoje, depende de teoria e prática. Sobretudo, depende de que o aprendiz tenha flexibilidade para analisar a teoria e, pela prática, recriá-la. Idealmente o aprendiz, embora possa aprender com qualquer um, deve ele mesmo ser um praticante, um sistematizador e um analista crítico.

Estejamos atentos, pois, para aprender com qualquer um, em qualquer lugar.

sábado, 27 de março de 2010

A natureza da luta política

Conforme ressaltou Will Durant, filósofo e historiador americano do século passado, a política deveria ser a arte de organizar a sociedade; mas, tornou-se a arte de obtenção e manutenção do poder, conforme esclareceu Maquiavel.

Não tenhamos ilusão. As forças organizadas estão em ação, e as desorganizadas agirão de forma explosiva sempre que a presssão sobre elas for insuportável, ou que algum líder populista as mobilize.

Usando uma classificação questionável, sabemos que a direita é boa para criar riquezas, e que a esquerda é boa para dissipá-la. Os espertos, à direita e à esquerda, querem nos convencer de que são merecedores de um quinhão especial da riqueza criada por todos.

Portanto, não há neutralidade. Cada um que analise a situação e busque agir com conhecimento de causa, de acordo com sua própria consciência. O desafio maior é fazer com que todos estejam conscientes de seus direitos, deveres e possibilidades de realização dos seus potenciais.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Regulamentação mínima ou máxima?

Onde não há maturidade a regulamentação da vida diária precisa atingir detalhes. Mas logo se percebe que, mesmo assim, as pessoas não aprendem. Os detalhes, contudo, têm uma utilidade: evitar que os juízes extrapolem sua autoridade ao julgar.

No caso do Brasil, diz-se que ele tem as leis mais rigorosas e detalhadas do mundo em alguns assuntos. Ao mesmo tempo, sabe-se que por aqui existem leis que pegam e leis que não pegam.

Ao cidadão é dito que "ninguém pode alegar desconhecimento da lei". Mas, quem consegue conhecer tantas leis e regulamentos? Parece que nem mesmo os operadores do direito conseguem, mas eles podem ter acesso fácil a documentos eletrônicos que os colocam em contato com essas leis, regulamentos e a jurisprudência pertinente.

Ora, tudo poderia ser mais fácil se tivéssemos cidadãos autodisciplinados. Para eles, bastaria uma constituição de um só artigo: "Todo cidadão deve ter vergonha na cara". Ou, na religião, aquela síntese feita por Jesus Cristo: "Amar a Deus de todo coração, com todo o entendimento; e amar ao próximo como a si mesmo."

Se isso fosse possível, o Estado não deveria ser máximo nem minimo, mas apenas suficiente. A burocracia, idem. Para a produção, os padrões operacionais seriam necessários como forma de explicitar o conhecimento tácito, dispensando o cérebro de ser usado como depósito de informação e liberando-o para atividades criativas.

Acordei!

terça-feira, 16 de março de 2010

Combatendo a síndrome do desleixo

De grão em grão a preguiça, a desesperança e o desleixo destronam a dignidade humana. Mas há soluções simples, viáveis e já testadas que podem promover verdadeiras revoluções na qualidade de vida. Citarei alguns exemplos a seguir.

No século XVIII John Wesley restaurou a dignidade de milhões de pessoas na Inglaterra mobilizando-as para, em nome de Cristo, mudar suas vidas no dia-a-dia. Ele deixava sua mensagem e, quando voltava ao lugar, chefes de família haviam deixado de beber, de fumar e de brigar por quaisquer motivos. As casas antes sem higiene tornavam-se lugares habitáveis e dignos.

Henry Ford, embora tenha sido muito criticado, mantinha suas fábricas limpas e organizadas, além de monitorar a vida de seus empregados para que usassem bem seus salários. A expectativa é que cada um deles pudesse adquirir casa própria e, até mesmo, um automóvel para facilitar sua mobilidade para apreciar as belezas naturais. Se Ford encontrava algo com defeito em sua fábrica, mandava consertar imediatamente.

No início da década de 90 o Metrô de São Paula já agia com determinação para manter-se limpo e conservado, gerando o respeito dos usuários. Mais tarde a cidade de Nova Iorque fez todo um programa revolucionário combatendo o desleixo no Metrô e, posteriormente, por toda a cidade. Isso induziu novos compartamentos e resultou numa impressionante queda do índice de crimalidade na cidade.

Enfim, a dignidade deve ser primeiro oferecida. Em seguida, induzida e, em último caso, exigida. Por meio de atitudes e práticas simples podem-se regenerar pessoas, empresas, cidadades e países.

domingo, 14 de março de 2010

Uma forma de compreender o sofrimento

Uma amiga estava quase à beira do colapso nervoso. Ela não conseguia entender o sofrimento. Por que há terremotos que matam inocentes? Por que há inocentes abandonados nas ruas? Por que há sofrimento?

Infelizmente eu não tinha uma resposta própria para as questões colocadas. Mas, havia lido uma interpretação que julguei bastante razoável. O sábio que eu li fez uma anologia entre a existência na Terra e um filme.

Os atores são reais enquanto atuam, mas trata-se apenas de um filme. Cada ator tem o seu prazo de atuação bem definido. Em seguida ele se retira da cena e outros entram no seu lugar. Então, aqueles que sofrem, sofrem momentaneamente uma experiência necessária. Mas o sofrimento não é permanente, ele só acontece durante o filme. Logo tudo passará.

Conforme acredito, passará o filme; mas a realidade, que é a fonte de tudo, será encontrada num outro plano. A alma é imortal, e precisa passar por experiências. Sua meta, aqui, é aprender coisas. Ter alegrias e prazeres, às vezes num extremo, às vezes no outro. O ator precisa aprender a ser livre e, ao mesmo tempo responsável, para merecer sua felicidade permanente.

Para não sucumbir aos extremos, o ator deve adquirir conhecimento da realidade. A realidade de que vive apenas num filme. Ele pode mudar o seu papel adquirindo autodomínio. Com isso, pode conseguir ver o seu próprio sofrimento à distância e não se deixar iludir.

Minha amiga sentiu-se aliviada. Em seguida, passou a ler os sábios que compreenderam a vida e atingiram a paz interior. Eles, contudo, devem ser lidos de forma crítica, pois entre os que se apresentam como sábios existem muitos exploradores do sofrimento e da ignorância.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Fé e conhecimento

Para conhecer é preciso ter fé, isto é, certeza de que existe aquilo que se busca conhecer. Essa certeza só pode ser dada como um axioma que provém da intuição do buscador/pesquisador. Mas a intuição só se manifesta ao buscador que age.

Pensar, sentir, agir, comunicar-se. Viver. Experimentar.

Fé e conhecimento.

Não há mais argumento.

Ou há?

Acho que faltou o amor. Sem ele nada vale a pena.

sábado, 6 de março de 2010

A lógica e a intuição

A lógica tem muito prestígio entre os intelectuais. Porém, ela anda em círculos. Dela não provém nenhuma verdade, mas apenas a coerência do pensamento a partir de um axioma.

Por outro lado, o axioma não tem origem na lógica conduzida conscientemente. Ele se impõe aos que estão pensando sobre algum problema como se fosse uma intuição.

A intuição, por sua vez, decorre de um processo de pensamento não consciente. E isso não quer dizer que o precesso em si não seja lógico, mas apenas desconhecido.

Einstein foi quem melhor compreendeu, na minha opinião, a necessidade de combinar intuição e lógica.

quinta-feira, 4 de março de 2010

O Brasil que se transforma

Claúdio de Moura Castro, na revista Veja do dia 24/02/2010, informa que em 1982 o Brasil participou, pela primeira vez, da Olimpíada do Conhecimento(World Skills International). Nesse campeonato compete-se em tornearia, marcenaria e robótica, entre outras modalidades.

Se em 1982 o País não ganhou medalha, em 1985 conseguiu chegar em décimo terceiro lugar. Em 2007 em segundo, e em 2009 em terceiro. Assim, mostrou que sua transformação para melhor, em assuntos de tecnologia, é uma possibilidde concreta. Na opinião de Moura Castro, os seguintes fatores estão por trás do sucesso brasileiro: qualidade valorizada, seleção dos melhores, prática obsessiva e persistência.

No Olimpíada da Civilização, é preciso, como anuncia a propaganda do Governo de Minas, "avançar sem deixar ninguém para trás". Ganhar uma olimpíada é muito bom, mas é preciso partir de um nivelamento geral da capacidade produtiva dos trabalhadores, permitindo que todos realizem os seus potenciais, ganhando ou não competições internacionais.

Coube ao Senai conquistar essa vitória para o Brasil e mostrar um bom caminho para o futuro, passível de implementação imediata.

Parabéns, Senai!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A intenção oculta

Todos os discursos podem ser bonitos, pois são planejados para atingir o público de acordo com suas necessidades. Eventualmente, a intenção é manifestada no discurso, mas é muito comum que ela seja oculta.

O estrategista da guerra, por exemplo, não pode tornar clara a sua estratégia. Antes, ele procura induzir no opositor a impressão de que a descobriu e, assim, força-o a desperdiçar seus esforços sem o saber. Ocultar a estratégia é fundamental para se tentar ganhar a guerra, se possível, somente na manobra.

Na política, Maquiavel deu o tom. Ele disse que o político deveria parecer religioso, mas agir como ateu. Deveria manifestar apreço à paz, mas preparar-se para a guerra. Deveria fazer o mal de uma só vez, e o bem aos poucos. A intenção verdadeira só ele mesmo deveria conhecer. Infelizmente, aprovemos ou não, essa estratégia é largamente usada hoje em dia.

Entretanto, quando se pressupõe parceria, e não competição, a intenção não pode ser oculta. Há necessidade de que se acredite na intenção, e que dela siga a prática equivalente. Daí a necessidade de que haja um histórico de confiança entre os parceiros. A curto prazo, toda boa intenção deve ser aceita com reserva, mas com um crédito de confiança; pois, a confiança, antes de tudo, é o pressuposto máximo da sociedade aberta.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Evolução racional

Freud conluiu que o ser humano é movido, principalmente, por emoções que se escondem no seu inconsciente; porém, ele também afirmou que "a razão é uma fraca luz que insiste em iluminar a verdade". Acredito que suas afirmações estão de acordo com o bom senso universal.

Uma evolução racional implica uma educação da emoção. Einstein alertou para a necessidade de que as emoções positivas sejam fixadas desde a primeira infância para que gerem resultados por toda a vida, ainda que ocorram recaídas eventuais. As posturas de Freud e Einstein, contudo, já haviam sido preconizadas por Platão, um dos primeiros a reconhecer que a emoção pode rebelar-se contra a razão e comandar o comportamento humano em muitas situações.

A evolução racional não pode prescindir do conhecimento sobre a natureza humana. Os costumes e hábitos provados de valor universal, presentes em todas as culturas, devem ser tomados como referência para o nivelamento educacional dos povos. Com essa base firmemente assentada, pode-se caminhar, conforme acredito, por meio de experimentos racionais e não apenas por reações a situações de calamidade. Essa estratégia de realizar experimentos foi adotada, por exemplo, por Gandhi para vencer, pela não-violência, a força letal do Império Britânico.

Ao perguntar sobre quais seriam as características universais de um ambiente apropriado à vida digna, tenho tido respostas do tipo: respeito, confiança, amizade, beleza, limpeza, ordem, justiça e misericórdia. Não há necessidade de teorias para promover o envolvimento das pessoas no nivelamento quanto a essas características universais. Basta sensibilidade humana de líderes que tenham, eles próprios, afinidade com essas características.

Simultaneamente, as pessoas devem ser levadas a exercitar a razão por meio de exercícios de raciocínio que conectem meios e fins. Trata-se de desenvolver em larga escala uma capacidade de pensamento estratégico ligado ao ciclo da ação racional. Alguns elementos desse ciclo são apresentados a seguir:

1) Partir da ideia de que se evolui: imitando, aperfeiçoando e inovando;
2) Combinar a solução do problema com a sistematização e operação das soluções encontradas;
3) Manter aceso o senso crítico para buscar fazer tudo de maneira mais simples, mais barata e alegre.

A evolução é um caminho inexorável pelos mecanismos impostos pela própria Natureza: dor e prazer. Mas, esse tipo de evolução é muito lento, dependendo de catástrofes que sirvam como educadoras do instinto. Contudo, a história da educação mostra que é possível acelerar a evolução cultural pelo uso da emoção em submissão à razão.

Esse processo racionalmente conduzido não pode prescindir de axiomas - por definição os axiomas não são passíveis de prova racional - sobre a origem e destino da vida. Para as pessoas que adotam esses axiomas a mudança pode acontecer num piscar de olhos, como se passassem por uma metanoia instantânea.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Algumas estratégias do pensamento

Eis algumas estratégias do pensamento usadas para resolver os problemas impostos pela vida:

1. Aprender com as boas práticas existentes. Isso implicar treinar e treinar até estar em condições de repetir, com perfeição, a boa prática tomada como referência.

2. Analisar os fatos e os dados do problema exaustivamente, agrupando-os de acordo com características comuns. Isso feito, podem-se identificar as lacunas de informação a serem preenchidas com novas pesquisas.

3. Partir do resultado desejado e desdobrá-lo quanto às características que devem ser desenvolvidas para se chegar lá. Isso é especialmente recomendado no caso de desenvolvimento de produtos.

4. Partir de um olhar prospectivo do todo, identificar as partes que precisam ser conhecidas, aprofundar-se na sua análise, comparar análises diferentes e bem-sucedidas dos mesmos tópicos e fazer a síntese final. Neste caso é preciso estar atento à intuição, que age de formar inconsciente sobre os problemas os quais analisamos conscientemente.

5. Ficar atento aos momentos especiais em que as ideias fluem com facilidade. Prestar atenção especial ao circuito TBC: trânsito, banheiro e cama.

6. Usar a imaginação para se fazerem simulações mentais completas sobre o problema. Há pessoas capazes de fazer, só com o pensamento, aquilo que outros precisam fazer com o apoio de anotações e esquemas. Desenvolver essa habilidade é um ótimo exercício para ampliar a capacidade de se pensar estrategicamente.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Pensamento do dia

"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os
poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto". (Ruy Barbosa)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O papel educador da realidade

Muitas pessoas morrem pelo efeito de vícios cujos resultados negativos lhes foram comunicados desde a infância. Algumas delas passaram por crises que, superadas, permitiram-lhes mudar o rumo de suas vidas. Outras, apesar de serem avisadas por crises preliminares, não as levaram em consideração. Outras, ainda, foram surpreendidas por crises fatais e, apesar de lúcidas, não puderam voltar atras. Eis como age a realidade.

Freud alertou-nos que o desejo quer satisfação imediata; mas que a realidade se impõe, quer impedindo essa satisfação, quer cobrando o preço em sofrimento. Naquilo que é vital, a realidade impõe-se contra todos os argumentos. Ela simplesmente ignora compaixão. Cabe-nos aprender com as dores dos outros sem necessitar experimentar os mesmos sofrimentos que vêm, por exemplo, com o uso excessivo de fumo, bebida e da língua.

Apesar de todos os exemplos, há sempre aqueles que ignoram a realidade até que ela se manifeste. Impiedosa, ela cobra todos os excessos. Ela educa pelo terror e, ao mesmo tempo, alerta para a educação que poderia fazer efeito com o amor e respeito às leis da natureza.

A longo prazo, a realidade é a maior educadora da Humanidade.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A estratégia em ação

Estratégia, para os efeitos deste texto, é a arte e ciência de coordenar meios para se atingirem fins. Embora, na guerra, a meta seja vencer na manobra, sem luta, a capacidade estratégica só se manifesta a quem está disposto a combinar teoria e prática.

A estratégia, após analisadas as condições internas e externas, é primeiro formada no pensamento, que pode alimentar um processo de planejamento formal, que transforma-se num plano, documentado ou não, que, por sua vez, alimenta o ciclo da atividade aqui chmado de Dinâmica do Conhecimento, já explicado em outras postagens.

A capacidade de pensar estrategicamente está presente em todas as pessoas, embora em graus diferentes. O exercício diário de pensar, tanto analisando os acontecimentos involuntários como os experimentos conduzidos intencionalmente, leva ao desenvolvimento dessa capacidade latente, atualizando, pelo movimento teórico-prático, o potencial existente. Esse potencial, por sua vez, é indeterminado, e só pode ser conhecido após ter sido realizado. Por isso, é importante que se creia que ele existe e que não tem limites conhecidos.

Estratégia e método estão intimamente interligados no conceito de Dinâmica do Conhecimento. Entretanto, algumas pessoas destacam a estratégia, considerando o método como sendo tácito e inerente. Outras destacam o método, considerando que a estratégia é tácita e inerente.

Os modelos para se compreender o pensamento estratégico devem ser buscados, principalmente, nos clássicos, tais como: A Arte da Guerra, Da Guerra, O Livro dos Cinco Aneis e Hagakure: a ética dos samurais e o Japão moderno. Em termos da competição empresarial, destacam-se os trabalhos de Michael Porter.

Quanto ao método, ele deve ser buscado, nas suas versões clássicas, nos filósofos e cientistas que se preocuparam em explicitá-lo, tais como: Descartes, Francis Bacon, Galileu Galileu, Newton e Einstein, este último tendo dado a versão mais atualizada sobre o mesmo.

Essas duas abordagens, da estratégia e do método, completa-se com o conhecimento sobre o comportamento humano, cujas bases téoricas podem ser encontradas, principalmente, nos grandes psicólogos e psicananlistas - por exemplo: Freud, Skinner e Jung, entre outros -.

Não se pode esquecer que as melhores fontes para a aprendizagem são os praticantes. Assim, as teorias tornam-se secundárias, embora importantes, quando se quer uma aprendizagem mais rápida e menos formal. Sobretudo, é necessário entrar em ação para aprender fazendo. Começa-se imitando, evolui-se pelo aperfeiçoamento e, por necessidade ou decisão, consolida-se a capacidade de inovar. A inovação traz os maiores riscos e, também, as maiores recompensas.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Paixão por servir

As pessoas apaixonadas pelo que fazem conseguem resultados excepcionais. Algumas delas têm paixão por vencer e, para isso, se for necessário, servem. Outras têm paixão por servir e, mesmo sem querer, vencem aqueles que se colocam como adversários.

Admiro as pessoas que servem. Elas não lutam por poder; antes, desejam deixar o seu rastro sobre a Terra por terem melhorado a vida por onde passaram. Elas preferem fazer amigos do que perdedores que ficam à espreita por vingança. Elas cooperam, mas não se importam se alguém as classifica como competitivas, pois têm a consciência limpa.

Na sociedade aberta, servir é a base do sucesso, ainda que se tenha prazer em vencer. Mas aqueles que colocam o foco em vencer, ao invés de servir, podem desviar-se do caminho e sujar sua biografia. Por isso, é até mais produtivo colocar o foco no serviço e deixar que os resultados aconteçam.

Contudo, há os raros casos de servidores que não pensam em reconhecimento ou recompensa pelo que fazem. Eles simplesmente cumprem o seu dever e deixam que o Todo Poderoso cuide dos resultados. Eles são os homens autorrealizados que servem de inspiração para a Humanidade.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O destino final do caminhante

Neste mundo estamos todos a caminho, embora muitos não saibam o seu destino final. No início, como crianças, precisamos de amor e treinamento lúdico para iniciar o domínio das armas a serem usadas nas batalhas ao longo do caminho.

A certa altura, os mais bem-sucedidos tornam-se um com essas armas. Podem superar grandes barreiras manipulando-as habilmente. Num estágio um pouco mais avançado, suas armas estão no coração, e o caminhante pode improvisar diante dos perigos imprevisíveis.

Para o homem comum, o caminhante que tem suas armas no coração parece um guerreiro perfeito. Mas, esse guerreiro, ao descobrir seu destino final, abandona a vontade de lutar e vencer para, finalmente, encontrar a paz. Ele adquire coragem de morrer ao invés de matar.

O destino final de todo caminhante neste mundo é transcender sua natureza humana e preparar-se para viver com Deus, a verdade última que vale a pena buscar por toda a vida.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Competência para servir

A competência, como capacidade instalada de gerar resultados, é poder para servir. Todo indivíduo tem a obrigação de ser competente naquilo que faz. Deve-se descobrir algo que possa ser feito com excelência, começando das atividades mais simples e, só então, evoluir para atividades mais complexas.

Há garis competentes, e eles podem ser felizes assim. Os que vejo em Belo Horizonte fazem o seu serviço com alegria. Há cirurgiões competentes, embora insensíveis. Se operam uma apendicite, ainda que sem anestesia, pode-se esperar que o paciente tenha grandes chances de sobreviver. Naquele momento específico mais vale a competência sem sensibilidade do que sensibilidade sem competência.

Naquelas situações em que perícia e sensibilidade precisam manifestar-se para o suceso da intervenção, ambas tornam-se fatores essenciais da competência. Conhecer, pois, os fatores determinantes do sucesso nos processos nos quais se está envolvido é uma condição necessária para a ação competente.

Em última análise, ser competente implica colocar em ação a Dinâmica do Conhecimento para se obterem resultados sustentáveis. Mas isso só faz sentido, sob o ponto de vista da verdade última, se for para servir.

sábado, 16 de janeiro de 2010

O Grande Aprendizado

Alguns dos seres humanos que se autorrealizaram, deixaram suas marcas para que aprendêssemos com suas experiências. Chamarei o seu legado de vida de O Grande Aprendizado. Vejamos alguns exemplos.

Confúcio
Expressou O Grande Aprendizado da seguinte maneira (síntese minha):
"O homem, individualmente, não pode mudar o mundo, nem seu país, nem sua cidade, nem seu bairro, nem sua família. Mas ele pode mudar a si mesmo e, assim, induzir mudanças na sua família, no seu bairro, na sua cidade, no seu país e no mundo."

Buda
O Grande Aprendizado de Buda foi expresso por meio do que ele chamou de As Quatro Nobres Verdades(síntese minha):
1 - O sofrimento é inevitável, pois faz parte da condição humana; 2) A raiz do sofrimento está no desejo; 3) A extinção do sofrimento só se dá com a extinção do desejo; 3) Durante a existência não se pode extinguir o desejo, mas amenizá-lo pelo autocontrole.

Sócrates
Creio que poderíamos sintetizar O Grande Aprendizado de Sócrates da seguinte maneira: "Fazer poucas perguntas certas e bem formuladas é mais importante do que responder a muitas perguntas sem importância". Com ele se aprende que mais vale sofrer uma injustiça do que cometê-la, e que rico não é o que mais tem, mas o que de menos necessita.

Platão
Discípulo de Sócrates, argumentou que todo homem busca, no fundo, uma só coisa: O Supremo Bem, ou Deus. Para tal é preciso conquistar as Quatro Virtudes Cardeais: Justiça, Sabedoria, Coragem e Temperança. Ressaltou que a realidade que supomos ver na Terra é como um filme. A verdade propriamente dita está fora, na fonte de luz da qual tudo deriva.

Aristóteles
Para ele, a principal missão do ser humano na Terra é conhecer. Isso exige que se inicie a caminhada pelos princípios básicos da ética, da comunicação humana e da pesquisa científica. Sua mente era tão poderosa que quase ninguém pensava livremente após conhecer suas ideias. Com isso, contribuiu, indiretamente, para paralizar a evolução da ciência.

Descartes
Alertou para a paralização do pensamento em sua época, que se resumia a reproduzir e comentar as ideias dos sábios, principalmente as ideias de Platão e de Aristóteles. Propôs alguns preceitos lógicos simples e praticáveis para o exercício do pensamento claro e correto. A partir dele fala-se num tal método cartesiano, atribuído, principalmente, aos engenheiros.

Francis Bacon
Ressaltou a necessidade de deixar de lado a sabedoria morta dos sábios antigos e realizar os experimentos necessários para se conhecer e explorar a natureza em benefício da qualidade de vida dos homens. Induziu a criação da Royal Society, de Londres, a partir da qual nasceu o empreendimento científico em larga escala.

Galileu Galilei e Newton
Consolidaram o método científico aplicando-o com grande sucesso na elucidação de alagumas leis da natureza.

Frederick Taylor
Exemplificou a aplicação do método científico na melhoria da qualidade e da produtividade na fábrica, tendo em vista o bem-estar do trabalhador e da sociedade.

Einstein
Consolidou o método científico combinando observação, análise, experimentação e intuição na busca da verdade. Enfatizou a necessidade de se levar em conta a sensibilidade nessa busca. Para ele, aprender a pensar é mais importante do que acumular conhecimento.

Kaoru Ishikawa
Liderou, na Japão, a consolidação da gestão científica com visão humanista e sistêmica. Para ele, todo ser humano tem potencial que precisa ser aproveitado, individual e coletivamente, para o benefício da Humanidade. Foi importante na recuperação da economia japonesa após a Segunda Guerra Mundial. A empresa-modelo na aplicação das ideias que defendeu é a japonesa Toyota Motors.

Gandhi
Demonstrou, na sua busca pela Verdade, que se pode tirar força da fraqueza aparente. Usou a não-violência como a mais poderosa arma de libertação, jamais usada até sua época. Sua estratégia principal consistiu em expor o opressor, que se preocupava com a opinião pública mundial, ao ridículo de usar a força contra aqueles que haviam jurado antes morrer do que matar. Ele afirmou que parte de sua estratégia provinha da aplicação dos ensinamentos de Jesus Cristo no Sermão do Monte. Todo o seu movimento foi baseado no uso do método científico, em que cada grande ideia era primeiro testada antes de ser posta em prática em larga escala.

Jesus Cristo
Ensinou que a a verdadeira vida não é aquela que conhecemos no corpo material. Há que se lutar aqui, carregando o próprio fardo, mas tendo em vista a vida espiritual, que só poderá ser vivida plenamente após esta vida. Ele se colocu como advogado daqueles que O buscam, defendo-os junto ao Pai Celestial. Ele ressaltou que essa perspectiva só está aberta aos mansos e humildes de coração.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

As religiões do homem

Erich Fromm afirmou que todo ser humano tem necessidade de ligar-se a um sistema de orientação e devoção. Isto é, todo homem é religioso, em sentido amplo. Resta saber a que tipo de religião ele está ligado.

Há os que se ligam à religião verdadeira que, segundo Tiago, consiste em socorrer os órfãos e as viúvas nas suas tribulações. Essa foi a situação do samaritano na parábola usada por Cristo para responder quem é o próximo a quem se deve amar.

Mas, há os que estão ligados à religião da política, da filosofia e da ciência. O político, no sentido original do termo, trata de ajudar a organizar a sociedade para gerar e distribuir riquezas. O filósofo, no sentido original da palavra, vive para descobrir a verdade última por trás das aparências. Na mesma perspectiva, o cientista vive para descobrir a verdade objetiva das leis da natureza.

Entretanto, tanto a religião propriamente dita, quanto as religiões substitutas, podem ser completamente deturpadas. A religião verdadeira pode ser substituída pela religião do dogma e valorizar a hipocrisia. A política, ao invés de organizar a sociedade com eficiência e eficácia, pode ser usada para a usurpação do poder, inclusive manipulando a religião, a filosofia e a ciência para tal. A filosofia pode tornar-se um tipo de religião dogmática sem Deus. A ciência pode tornar-se um reduto de grupos que tiram o seu poder da ignorância alheia, às vezes por meio da linguagem hermética.

Assim, é preciso estar atento. Os homens, por natureza, não conseguem viver sem um sistema de orientação e devoção. Eles podem dividir-se em crentes e ateus e, com ou sem Deus, unir-se para usurpar o poder e usá-lo em benefício próprio. Mas há os que, seguindo a religião verdadeira, tornam o ambiente em torno de si um verdadeiro paraíso, mesmo quando há escassez de recursos materiais.