segunda-feira, 31 de maio de 2010

A sabedoria em ação

Nos tempos antigos - na Grécia, por exemplo -, a sabedoria atingiu um alto valor. Mas tratava-se de uma sabedoria contemplativa. O trabalho era destinado aos escravos.

Penso que, entre a sabedoria como algo contemplativo, e a ação sem sabedoria, o meio termo justo está na sabedoria em ação.

Os tesouros escondidos na natureza podem e devem ser explorados, mas tendo em vista a sustentabilidade da civilização.

A ação pura leva ao consumo destrutivo. A contemplação pura permite que muitos vivam miseravelmente em meio à riqueza mal distribuída. Só a sabedoria em ação pode apontar para a vida plena.

Podemos ver nessa postura um sinal de maturidade do ser humano. É algo raro, mas os exemplos a esse respeito são animadores o suficiente para que essa via seja buscada com persistência.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O poder criador da mente

O Poder Criador da Mente. Este é o nome do livro de Alex Osborn, publicado pela primeira vez em 1953. Ele descreve um método para extrair da mente ideias poderosas: a tempestade de ideias, também chamada de brainstorm ou, na forma escrita, de brainwriting.

O pressuposto é que cada mente individual absorveu certa quantidade de ideias, e que pode combinar ideias enquanto pensa de forma livre. Ao reunir as ideias de muitas mentes, podem-se extrair ideias brilhantes a serem colocadas em prática. Na atualidade, com a rede mundial de computadores, podem-se fazer tempestades de ideias em segundos, envolvendo as melhores mentes já produzidas pela Humanidade.

Embora cada mente seja finita, ela não conhece os próprios limites. Algumas pessoas, por isso, referem-se ao poder infinito da mente. Contudo, seria mais correto referir-se ao poder indeterminado da mente. Isso posto, pode-se buscar avançar todos os limites conhecidos, realizando-se façanhas antes julgadas impossíveis.

O avanço fantástico do conhecimento científico está dentro desse contexto. Coisas nunca antes imaginadas, ou apenas imaginadas, mas consideradas utópicas, tornaram-se reais. Elas refletem a materialização de ideias, que se tornam imagens, que eventualmente são construídas materialmente.

Então, embora o finito não possa abarcar o infinito, talvez não haja limites conhecidos para o que a mente finita pode imaginar e realizar. Ela avança sempre visando a tangenciar o próprio limite. Este, por sua vez, continua desconhecido.

Prossigamos, então, na luta pela construção de um mundo melhor para todos. Agora imaginando uma grande mente, formada de todas as mentes, e que alimenta cada mente individual. A Mente Mestra aparente está na rede mundial de computadores; mas, onde está a Mente Mestra verdadeira?.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Purificação mental

Penso que um dos maiores desafios do ser humano é submerter-se a um processo de purificação mental. Isso pelo fato de, necessariamente, a mente estar contaminada pelo organismo que luta pela sobrevivência individual sem levar em conta que a sobrevivência só faz sentido se for de natureza coletiva.

É como se a mente fosse o ouro amalgamado ao mercúrio. O processo de purificação passa pela destilação, sob elevada temperatura. Sendo a própria mente o ouro, ela sente os efeitos da alta temperatura. Sofre até que se purifique no doloroso processo de destilação. Entretanto, enquanto existe no corpo, essa purificão não pode ser completa.

Quanto mais identificada com o organismo, mais a mente parece real. Ela sempre parte do mundo e aceita a competição como inevitável. Aceita que o mais forte e esperto tem o direito de sobreviver em detrimento dos demais. Ela diz: - peço passagem aos fracos e indecisos. E mais: - sou matéria, existo na matéria e devo realizar-me na matéria.

Quando atinge certo grau de pureza, a mente não se prende ao mundo cão. Ela pode muito bem imaginar-se vivendo no mundo ideal, mas compartilhando sua vida entre os fracos e indecisos no mundo real, porém ajudando-os a realizar os seus potenciais mentais. A solidariedade universal torna-se uma utopia passível de construção pelos homens em associação.

Julgo que o caminho do crescimento humano passa pela busca da saúde mental, ou purificação mental, que gera a alegria de viver e de compartilhar vida em abundância. Um dos caminhos para tal é a associação das pessoas para resolverem problemas comuns em equipe, a partir dos locais onde eles ocorrem.

Vivendo pela fé

Entendo que o termo crença tem um sentido fraco. Até mesmo em sentido religioso. Tiago, o da Bíbia, afirmou que não há mérito em crer em Deus, pois o diabo também crê.

Já o termo fé tem um sentido forte. Até mesmo sob a perspectiva não-religiosa. Einstein, por exemplo, afirmou que suas pesquisas científíficas eram movidas pela fé.

A fé, sob a perspectiva secular, assim como sob a perspectiva religiosa, trata da certeza da existência daquilo que não se vê. Ninguém vê o oxigênio, por exemplo, mas a certeza de sua existência está no próprio organismo que dele tira a vida.

O cientista procura aquilo que não vê. Ele tem fé e, por isso, busca. O religioso acredita naquilo que não vê. Ele tem fé, e por isso busca.

A fé, em seu sentido genérico, está embutida em tudo que cresce e se desenvolve. Vai do mundo mineral, passa pelo mundo vegetal e chega ao mundo animal com mais vitalidade ainda.

No homem, a fé pode tornar-se consciente. Ela o impulsiona a buscar algo que nele existe em potencial, mas que precisa tornar-se atual pelo movimento existencial.

No homem consciente a fé leva à autorrealização. Ele deve tornar-se aquilo para o qual nasceu. Mas, eventualmente, ele se perde por falta de usar sua capacidade de raciocínio, ou por falta da ajuda mínima necessária.

Daí que a fé não pode ser meramente intuitiva, como nos animais. No homem ela deve ser dirigida pela razão espiritual.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ansiedade de informação

Fatos e dados organizados geram informação que, por sua vez, alimenta a dinâmica do conhecimento. Entretanto, tomamos informação por conhecimento, desejando mais e mais quanto mais temos, sem saber lidar com ela.

Pela televisão, internet, materiais impressos e conversas, mergulhamos no oceano da informação sem saber nadar nele. Os alunos fazem provas que exigem cada vez mais memória, mas raramente aprendem a arte de lidar com a informação, e como transformá-la em conhecimento produtivo.

De fato, pouco se aprende a pensar e a pesquisar, embora o progresso na carreira, atualmente, dependa da capacidade de pensar e pesquisar por conta própria para se encontrar a agulha escondida no palheiro.

Recentemente um escritor religioso destacou o fato de ter escrito mais de 120 livros para demonstrar a absoluta simplicidade da essência da mensagem de Cristo: o amor, a fé e a esperança como orientadores da vida prática. Ele fez questão de frisar que após 30 anos de insistência nessa simplicidade, pouca gente compreendeu sua mensagem.

Outra pessoa, autointiluda filósofo, ressaltou que já escreveu mais de 20 mil páginas para ensinar seus alunos a pensar. Entretanto, tem-se a impressão de que ele não foi bem-sucedido em sua empreitada.

Há, nos Estados Unidos, a mania de comprar livros pela relação custo-benefício em relação à quantidade de páginas. Algumas pessoas compram livros em função do seu volume e peso; porém, geralmente não lêem mais do que as primeiras páginas.

As melhores empresas de engenharia aprenderam a lidar com fatos, dados e informação de forma a gerar conhecimento. Geralmente seus relatórios internos são feitos em powerpoint, visando à comunicação imediata num relance de olhar. Elas constituem um bom modelo para se lidar com a informação.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Da imitação à inovação: a dinâmica da civilização

O processo civilizatório, que se pode acompanhar nos bons livros de História, valeu-se das vivências involuntárias, impostas pelas condições de existência, tanto quanto do empreendimento dito científico, isto é, a execução de experimentos intencionais para gerar conhecimento em todas as áreas da vida.

As muitas vivências e os muitos experimentos geraram modos de vida considerados mais ou menos satisfatórios, sob vários pontos de vista. No que se refere à melhoria da qualidade de vida, os avanços foram notáveis. Muitos deles, conforme ressaltou Francis Bacon, foram ocasionais, ou baseados na imitação da própria natureza, em especial os animais construtores, como o João de Barro e o Castor.

Os casos mais recentes do Japão e da Coreia do Sul são exemplos que demonstram o valor de imitar aqueles que conseguiram os resultados que estão sendo buscados. A China segue o mesmo exemplo desses dois países. A imitação, num primeiro momento, é feita da forma que se pode fazê-la, quase sempre com muito sacrifício. Entretanto, em algum momento ela tem de ser uma imitação criativa, sob pena de não se alcançarem os resultados desejados.

O simples nivelamento em relação ao estado da arte da civilização representa um esforço gigantesco. Contudo, as mudanças continuam ocorrendo de forma acelerada por meio da inovação, seja em sentido restrito, de pequenas melhorias, seja em sentido mais radical. O futuro, portanto, exige inovação. E foi isso que a Coreia do Sul aprendeu (veja o livro Da Imitação à Inovação: a dinâmica do aprendizado tecnológico da Coréia, de Linsu Kim).

Em qualquer área da atividade humana, seja para o indivíduo, organizações e países, essa é a sequência natural a ser seguida: imitar, imitar criativamente, e inovar. Assim caminha a civilização sob a perspectiva tecnológica. Resta-nos fazer o mesmo sob a perspectiva cultural.

Como sabemos, a tecnologia pura pode trazer benefícios em termos de bem-estar material, mas pode acelerar a destruição do Planeta se o ser humano não for educado para o consumo saudável. Atualmente percebe-se que o consumo tem tendências altamente destrutivas a médio e longo prazos. Resta-nos, então, cuidar para que o avanço se dê também no nível moral.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Fluindo entre a ansiedade e o tédio

A reflexão a seguir baseia-se no livro A Psicologia da Felicidade, de Mihaly Csikszentmihalyi.

A exigência de desempenho além, ou aquém, do que permitem a aptidão e as habilidades necessárias é veneno para a saúde. Se além, gera-se ansiedade. Se aquém, gera-se tédio.

Entre esses dois extremos está a confortável situação do desempenho máximo possível compatível com a vida saudável do indivíduo: o fluir.

Ao fluir no canal das possibilidades compatíveis com as suas condições de sáude, o homem tem um sentimento de felicidade único.

Para tal, é necessário que os resultados de sua ação sejam passíveis de avaliação a cada momento, incluindo as recompensas atuais e esperança de recompensas futuras. Pode ser que a própria atividade gere essas recompensas.

O alpinista, por exemplo, tem esse sentimento, apesar da periculosidade inerente à atividade. Os bons profissionais de qualquer esporte relatam esse tipo de sentimento.

Certas empresas conseguem criar ambientes propícios ao fluir de cada colaborador, como parece ser o caso, por exemplo, da Microsoft e da Apple.

O grande segredo consiste em criar as condições necessárias e suficientes para que cada pessoa, adequademente selecionada e treinada, caminhe no seu canal caraterístico do fluir.

Contudo, só o indivíduo autodisciplinado, em sentido amplo, está em condições de encontrar esse canal por si mesmo.

sábado, 1 de maio de 2010

Liberdade (Fernando Pessoa)

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...