sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Os três tipos de moralidade segundo Will Durant

Will Durant, no seu livro A História da Filosofia, assumindo que não é possível fazer distinção significativa entre ética e moral, apresenta três conceitos de moralidade segundo sua origem em Platão, Jesus e Nietzsche.

Moralidade, disse Platão, é cada um ter e fazer o que lhe compete. Sob essa perspectiva, o conceito de moralidade se assemelha ao conceito de justiça. Mas é importante lembrar que na época de Platão havia escravidão, e que ele julgava justo que houvesse.

Moralidade, disse Jesus, é bondade para com os fracos. Para Jesus, a grandeza estaria em, tendo todo o poder, como Ele, abrir mão desse poder em prol do miserável pecador arrependido. Até mesmo o inimigo, quando em estado de necessidade, deveria ser socorrido.

Moralidade, disse Nietzsche, é a vontade do forte. Nieztsche preconizava o super-homem, que Hitler defendeu mais tarde.

Durant não escolhe, mas pergunta: - há alguma dúvida sobre qual conceito é o mais nobre?

Algumas máximas sobre ética

Segundo o Novo Dicionário Aurélio ética é o "Estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto". Trata-se de um campo de estudos da filosofia, cujo resultado final se traduz numa máxima orientadora da ação.

Não faz sentido, portando, alguém dizer que "é preciso ter ética e responsabilidade". A ética é que pode classificar-se como sendo centrada na responsabilidade ou nos resultados sem apego a valores. Assim, é melhor referir-se à máxima que decorre do estudo da ética a partir de certas fontes. Eis algumas dessas máximas.

Faça aos outros aquilo que gostaria que eles lhe fizessem. (Fonte: é chamada de a Regra de Ouro, e pode ser encontrada em todas as grandes religiões e filosofias)

É melhor sofrer injustiça do que cometê-la. (Sócrates)

Aja de forma que a sua ação possa ser aplicada universalmente. (Immanuel Kant)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O Brasil e a crise

As mudanças podem ocorrer: 1) como reação diante de crises; 2) como decisão de se construir um futuro melhor.

Segundo o professor Noriaki Kano, da Universidade de Tóquio, apenas 30% das empresas japonesas decidiram mudar, após 1945, em função de sua visão de futuro. 70% delas mudaram por terem passado por crises profundas.

Quanto ao Brasil, ele está em condições muito apropriadas para combinar os dois fatores. O potencial de desenvolvimento do País já é amplamente reconhecido. Parte desse potencial já está sendo transformado em resultados.

Contudo, a crise o está sondando o País, juntamente com sonhos de futuro que estão sendo compartilhados pelo povo e por alguns de seus líderes políticos.

Como disseram alguns líderes mundiais, o Brasil já pode ser considerado um país do presente que tem um futuro ainda melhor.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Como se sentem palestinos e israelenses?

O outro sente-se como que em estado congelado (portadores do Mal de Parkinson). Sente-se como preso ao vidro de uma janela sem poder mover-se (depoimento de um ente querido). A mulher sente-se como se estivesse com sua pele nua no sofá coberto de areia (explicação de Virgínia Satir ao marido de uma mulher afetada pelo seu comportamento desleixado). O santo hindu descreveu que se sentia abarcando todo o universo, em estado de gozo indizível.

Não sabemos o que o outro está sentindo. Por isso devemos deixar margem para que ele se manifeste. Porém, ouvir é a ferramenta humana mais fácil de ser mal compreendida. Na maioria das vezes sequer damos ao outro a oportunidade de falar, pois preferimos falar do que ouvir. Não temos a formação do psicanalista para ouvir e compreender de forma apropriada. Contudo, sendo as relações humanas nossa principal ocupação no dia-a-dia, deveríamos todos receber algum treinamento para compreender a nós mesmos e ao outro.

Nosso egoísmo pode até nos dizer que já temos problemas demais. Que, em verdade, nem mesmo sabemos lidar com nossos próprios sentimentos, quanto mais compreender o sentimento alheio? Mas, como seres sensíveis e falíveis, devemos ficar alertas sobre o que o nosso semelhante pode estar sentindo.

Coloquemo-nos, pois, no lugar do outro antes de julgá-lo. Façamos um esforço especial para compreender os sentimentos dos palestinos e dos israelenses. Ouçamos os dois lados e estudemos a sua história para que possamos emitir nossas opiniões sobre eles com algum fundamento.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Choque de iniciativa

Pessoas, organizações e nações às vezes deixam de tomar as iniciativas necessárias para transformar sua realidade. Como resultado, a miséria e a violência espreitam à porta. Às vezes essa iniciativa depende apenas de que alguém acenda a centelha que ativará as forças mentais e corporais dormentes no homem.

Identifiquei um adolescente, meu parente, que vivia num ambiente decente, mas sem perspectivas de crescimento. Percebi que ele tinha potencial e lancei-lhe o desafio de reagir com o meu apoio. Ele atendeu ao desafio de estudar, trabalhar e mudar suas perspectivas de futuro. Atualmente está em fase de reflexão e, vez por outra, telefona-me chorando pela emoção de conquistas que jamais imaginava serem possíveis.

Isso também acontece com organizações e países. Vez por outra as circunstâncias fazem surgir os líderes necessários para tirá-los do seu sono profundo. Espero que tenha chegado a vez do Brasil. Várias iniciativas de choque de gestão estão acontecendo. Felizmente, pude participar do movimento que deu impulso a esses choques na década de 1990. Mas o grande choque inicial aconteceu mesmo foi em 1808, com a vinda de Dom João VI para o Brasil.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Um comentário sobre a natureza da ação

Em sentido amplo, não existe a possibilidade de o homem não agir, pois todo movimento ligado ao pensar e ao sentir já é ação. Em sentido restrito, a ação tem a ver com a consumação do pensamento e do sentimento, gerando resultados visíveis. Essa consumação, por sua vez, pode ser feita diretamente ou influenciando outros a agir por meio da comunicação.

No hinduismo e no budismo o agir gera débitos, ou "karma". No cristianismo a ação gera o "pecado" - em pensamentos, palavras e obras -. Nessas religiões assume-se que o meio termo está na ação responsável, coerente com os valores fundamentais da religião, o que elimina os efeitos do karma e do pecado.

No mundo secular, as propostas contemplam: 1) o agir pragmaticamente, isto é, sacrificar os valores aos fins - maquiavelismo, capitalismo selvagem, nazismo, fascismo e marxismo -; 2) o agir com senso crítico orientado por valores humanistas universais - liberalismo popperiano e social-democracia -; 3) postergar a ação e pregar grandes ideais - idealismo, racionalismo, sentimentalismo -.

Como ser potencialmente racional, o homem lida com o problema da ação investigando o verdadeiro e o falso: diante do fato consumado, preventivamente ou preditivamente. Entretanto, ele o faz a partir de valores que estão arraigados em sua consciência. Portanto, a investigação da natureza da ação é paralela à investigação do problema da verdade, mas limitada pelas crenças e valores que conduzem o investigador.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Os quatro pilares da sabedoria de Deming

Willian Edwards Deming (1900-1993) é o homem que introduziu o conceito de Gestão pela Qualidade no Japão em 1950. Naquela época ele ressaltou: 1) o uso da estatítstica no controle econômico da qualidade; 2) a necessidade de visão sistêmica; 3) o fato de que a qualidade não se refere a produto, mas a pessoas. Ele foi conhecido como um Cristão cujos ensinamentos e prática de vida estavam de acordo com sua fé, embora não costumasse referir-se a ela no meio profissional.

Um pouco antes de morrer, Deming fez um balanço de sua aprendizagem e ensinamentos e concluiu que eles derivavam da aplicação integrada de quatro pilares fundamentais: visão sistêmica, pensamento estatístico, psicologia e teoria do conhecimento. Na sua opinião, não é necessário que se domine cada um desses pilares como especialista - isso pode ser até contraprodutivo -, mas que se esteja atento ao conjunto, fazendo questionamentos fundados nesses pilares.

A visão sistêmica nos ensina que o todo é um conjunto de partes integradas. Cada parte tem o seu valor único e, por menos relevante que pareça ser, pode destruir o sistema se não estiver no seu lugar, em perfeitas condições de funcionamento. O homem, sendo o elemento central dos sistemas produtivos, precisa ser compreendido em suas necessidades e desejos, o que implica estudar pisicologia individual e do grupo. O pensamento estatistico afinado é necessário para avaliar o desempenho do sistema e de suas partes, mas é preciso tomar cuidado para não pensar em resultados sem a visão sistêmica e, principalmente, sem compreender o homem. Esses três pilares dependem, por sua vez, de uma teoria do conhecimento apropriada.

Nos últimos quinze anos, após ter tomado conhecimento desses pilares, procurei integrá-los como elementos inerentes à Dinâmica do Conhecimento Produtivo. Com isso, todo trabalhador deve ser visto como um estrategista na arte de lidar com conhecimento produtivo a partir da sua área de atuação. O seu método básico passa a ser o mesmo dos cientistas, engenheiros e gerentes. Assim, tem-se uma nova base para a formação do trabalhador da Era do Conhecimento, adequado às necessidades de uma Nova Economia (veja-se o livro de Deming "A Nova Economia").

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O oprimido raivoso e violento não tem futuro

O oprimido, se raivoso e violento, só tem a perder em todos os níveis. Quando sua situação é analisada racionalmente, sempre se conclui que sua miséria é como uma profecia que se auto-realiza. Ajudá-lo sem que ele se converta ao bom senso pode significar lançar pérolas aos porcos.

Conheci um caso em que uma pessoa acolheu um oprimido raivoso e violento que era como uma cobra venenosa tremendo de frio e fome. Ela colocou-o carinhosamente junto ao próprio peito, dando-lhe o calor humano de que precisava. Mas, assim que o indívíduo-cobra se recuperou, picou impiedosamente o seu antigo protetor.

A estratégia vitoriosa do oprimido só se manifesta a longo prazo. O exemplo típico foi a vitória do Cristianismo contra o poderoso Império Romano. Nietzsche, apesar de desprezar a espiritualidade do homem verdadeiramente Cristão, reconheceu que ela é a força capaz de vencer todas as barreiras a longo prazo. Neste caso, argumenta-se que, apesar de ter vencido nos primeiros séculos, o Cristianismo tornou-se vítima do próprio sucesso, precisando agora recriar-se.

Mas há casos em que o oprimido pode tornar-se consciente de que tem força extraordinária escondida sob o véu da vergonha. Na China, além do ópio que o opressor usava para enfraquecer o poder de resistência do povo, havia estabelecimentos comerciais com placas com os seguintes dizeres: Entrada Proibida para Cães e Chineses. A China oprimida mobilzou corações e mentes, recuperou sua dignidade e já desponta como a terceira potência econômica do Planeta.








terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Compreendendo o choque de culturas

O respeitado epistemólogo Karl Popper (veja-se o seu livro Em Busca de um Mundo Melhor) evocou Heródoto para ilustrar como as culturas podem chegar a costumes tão opostos que geram horror e, ao mesmo tempo, a necessidade de refletir sobre a pespectiva do outro antes de julgá-lo.

Relata Heródoto:

"Dario, no período do seu governo, convocou os gregos que estavam em sua corte e lhes perguntou por que preço estavam dispostos a comer seus pais mortos. Eles reponderam que nada, mas absolutamente nada, lhes faria agir desse modo. Então, Dario convocou os kallatier, um povo indu que costumava comer os pais, e lhes perguntou, na presença dos gregos, que dispunham de um intérprete, por que preço eles concordariam em cremar seus pais mortos. Ao ouvir isso, os kallatier gritaram de horror e lhe imploraram que nem sequer mencionasse tal blasfêmia. São assim as coisas do mundo."

É evidente que os costumes que colocam em risco a nossa integridade física e moral não devem ser tolerados, como por exemplo: a prática do terrorismo, a antropofagia e outras práticas invasivas. Entretanto, os costumes que não afetam a nossa integridade devem ser aceitos em sinal de respeito pelas condições de existência do outro. A tolerãncia, neste caso, é uma questão de bom senso. A intolerância torna-se a forma mais eficiente de gerar desgastes emocionais desnessários.

As tecnologias de comunicação atuais estão permitindo a troca de informações que produzirão um padrão cultural global comum construído a partir de múltiplas e recíprocas influências. Contudo, como já demonstrou o caso japonês, é possível aprender com todas os modismos e culturas, experimentá-los eventualmente e, ao mesmo tempo, manter intacto o núcleo mais profundo da própria cultura. A identidade de um povo depende de se conhecer a origem desse núcleo mais arraigado e, após submetê-lo à crítica racional, manter conscientemente os aspectos que lhe parecerem dignos de uma sociedade esclarecida.

A dignidade do servidor público

O servidor público muitas vezes está em condições desfavoráveis. Eventualmente, não tendo vocação para servir, ainda pode estar submetido à gestão sem compromisso com resultados. Numa das situações que investiguei, os baixos salários eram evocados para justificar a irresponsabilidade. Servidores sob esta situação podiam ganhar pouco, trabalhar pouco e reclamar o tempo todo das injustiças de que eram vítimas. Em verdade tratavam-se de pessoas com deficiência de ser, carentes de ajuda de profissionais da saúde.

Por outro lado, encontrei muitos servidores - a maioria -, que viam a sua dignidade no ato de servir dando o melhor de si. Alguns lutavam por seus salários por meio dos seus representantes; mas se esforçavam por valer sempre mais do que ganhavam. Assim, abriam caminho para participar de uma espiral ascendente de dignidade. Alguns deles puderam, inclusive, enfrentar o mercado de trabalho privado sem sentimento de inferioridade.

Um dos desafios que o servidor público pode colocar-se é a auto-emancipação pelo conhecimento. Conhecer a si mesmo e ao outro. Conhecer a capacidade dos processos de trabalho de que participa. Identificar e realizar as pequenas oportunidades de melhoria que estiverem ao seu alcance. Enfim, assumir a liderança do próprio desenvolvimento para libertar-se das condições restritivas que dependam de terceiros. Conheço pessoas que fizeram isso com sucesso apesar de todas as restrições ambientais. Algumas são felizes onde estão, apenas fazendo a sua parte e melhorando tudo ao seu redor. Outras buscaram e encontraram ambiente de melhor remuneração e reconhecimento profissional.

O servidor público é, antes de tudo, um ser humano com ânsia de viver com dignidade.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O choque do desejo contra a realidade

O desejo é o combustível da vida. A realidade é o obstáculo a ser superado com inteligência e sabedoria.

Com a sabedoria judáica antiga (ver Gênesis 4:7) aprende-se que o desejo pode voltar-se contra aquele que o alimenta, tornando-se o pecado que espreita à porta. A solução proposta contra essa cilada é o domínio próprio.

Na sabedoria védica (veja-se a Bhagavad Gita) o desejo, especialmente o desejo de posse, é apresentado como o grande inimigo a desviar o ser humano do seu objetivo na Terra. O tema é retomado por Buda, que afirma ser o desejo a fonte de todo sofrimento, e o seu controle a solução para todos os males.

Sócrates ressaltou que o segredo da felicidade está em não desejar mais do que o estritamente necessário para se levar uma vida saudável. Ele recomendou, por exemplo, o uso de alimentos crus ao invés de sofisticadas e caras refeições cujos princípios ativos dos alimentos foram destruídos.

Freud reabilitou o desejo como o combustível que move a vida, mas ressaltou que a realidade pune tanto os que o reprimem de forma exagerada quanto os que a ele dão vazão sem autodomínio.

Vez por outra até mesmo os pregadores religiosos ortodoxos se perdem com o tema e estimulam suas ovelhas a "nunca desistirem dos seus sonhos". Muitas vezes esse tipo de conselho é bastante adequado para aumentar a auto-estima e motivar as pessoas; porém, se as pessoas não tiverem maturidade para colocar esse conselho em prática, ele pode tornar-se uma nova fonte de sofrimento.

As soluções encontradas por todos os sábios que trataram do assunto é sempre a mesma: autoconhecimento e autodisciplina. Só assim o desejo pode ser traduzido em sonhos e metas, gerando alegria de viver sem voltar-se contra a saúde do ser humano.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O problema central da verdade

O problema central da verdade, conforme ressalta Bazarian (BAZARIAN, Jacob. O Problema da Verdade.) é encontrar um critério de verdade que seja verdadeiro. Esse problema coloca a todos, crentes e ateus, filósofos, cientistas, engenheiros, gerentes e empresários numa rotatória com muitas alternativas de saída, mas sem garantia de que as saídas levarão ao destino final desejado.

Popper, o racionalista crítico antimarxista, afirma que não existem critérios absolutos de verdade, nem a possibilidade de certeza sobre a possível verdade encontrada. Na sua opinião, em quaisquer situações, mesmo nas ciências naturais, só podemos contar com conjeturas. O conhecimento que pareça mais sólido é apenas conjetural, podendo ser criticado e reformado ou, no mínimo, deixado em aberto para críticas em momentos oportunos.

Einstein afirmou (EINSTEIN, Albert. Notas Autobiográficas) que o salto para a verdade não decorre de experimentos, nem da lógica, embora experimento e lógica sejam parte da investigação científica. Ele afirma que, para avançar, é preciso ter fé, embora não em sentido religioso.

Creio que até mesmo na religião é essa rotatória que está em jogo. Neste caso, só se pode sair dela pela fé. Porém, essa fé só faz sentido se houver a experiência com o divino que se busca e que se manifesta no amor.

Concluindo: o problema central da verdade coloca-se ao ser humano no ato de viver. Ele é obrigado a vivenciar e experimentar, mas os resultados obtidos, embora possam ser úteis, nem sempre são verdadeiros. Cada passo dado em situações novas é um passo de fé na existência daquilo que se procura. A aproximação da verdade depende da eliminação de erros no curso das vivências e experiências.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Reflexão sobre os tipos de linguagem

Esta reflexão ressalta os quatro tipos de linguagem derivadas da classificação aristotélica: a poética, a retórica, a lógica e a dialética. Essa ênfase torna-se importante tendo em vista a criação de cultura, a comunicação humana e a busca da verdade em geral.

A linguagem poética visa a deleitar a alma e, também, a abrir as portas da comunicação. A linguagem retórica visa a convenver o interlocutor a optar por determinado curso de ação pela combinação de emoção e razão. A linguagem lógica visa a garantir a consistência interna do que está sendo dito, abrindo caminho para a ciência. A dialética visa à identificação da verdade ou à construção do consenso levando-se em conta as opiniões dos participantes do diálogo.

A busca do conhecimento depende, em parte, de se combinarem imaginação, lógica e dialética, esta reformulada como método científico por excelência. Embora reivindicada por adeptos de Marx como sua contribuição ao método científico - veja-se, por exemplo, o artigo Saber e Prática, de Mao Tze Tung -, ela pode ser encontrada no método de pesquisa mais avançado, como aquele usado por Einstein.

A linguagem dialética pode incluir, momentaneamente, a poética e a retórica, desde que esses níveis anteriores sejam filtrados, em algum momento, pela análise lógica. Entretanto, a dialética que fica no plano das palavras torna-se idealismo ou racionalismo puro, nada gerando de conhecimento produtivo.

O mal uso da dialética levou a que se perdesse muito tempo discutindo o sexo dos anjos. Quando usada como arma retórica, levou a que certos impasses fossem resolvidos pela eliminação física do opositor, como acontecia nos encontros entre nazistas e marxistas na alemanha de Hitler.

Como lição para o contexto deste blog - compreender e transformar - deve-se prestar muita atenção à linguagem, pois ela pode ser usada, e tem sido usada, com o objetivo principal de exercer o poder sobre aqueles que não a compreendem.

Conhecimento e ignorância

Na sua acepção mais simples, conhecimento significa "ato ou efeito de conhecer", o que leva em conta o aspecto pragmático de acionar meios para se atingirem resultados. Ele se dá no processo, continuamente gerando resultados e capacidade de consegui-los, individualmente ou em equipe.

As organizações humanas racionalmente conduzidas são organizações do conhecimento. Elas buscam ideias resultantes de conhecimentos gerados dentro ou fora de si, e recriam o tempo todo conhecimentos que se transferem para os seus bens e serviços gerando, em última análise, o sentimento de satisfação das pessoas que têm influência na sua existência.

Diz-se, ainda, que o conhecimento pode ser tácito, explícito e que precisa ser socializado. O ato de conhecer exige um processo dinâmico que tem um roteiro geral simples. Esse roteiro, desdobrado, pode ser representado com diferentes graus de detalhamento. Maior a ignorância do agente, maior a necessidade de detalhamento. Os grandes cientistas, como Esinstein, representaram os seus métodos de forma simples.

O sistema de produção de bens e serviços, como representação do roteiro do conhecimento produtivo, pode ser muito complexo. Contudo, esse roteiro complexo precisa ser sistematizado na forma de algorítmos embutidos em softwares que possibilitem a sua operação da forma mais simples possível. A produtividade é conseguida quando se combinam a automação com a possiblidade de intervenção crítico-criativa humana.

Nesta refexão é importante ressaltar que, por mais que conheçamos, o conhecimento possível é finito. Já a ignorância é infinita, o que dá ao ser humano a possibilidade de usar o seu tempo sem tédio, embora ele possa sentir-se muito ansioso se não controlar o seu desejo de conhecer, produzir e consumir. O movimento para conhecer nasce da necessidade de resolver problemas, práticos e/ou teóricos, e é exatamente o fosso entre o que se conhece e o que se ignora que gera a tensão criativa de soluções.

A tensão maior ocorre entre o conhecimento e/ou ignorância no que se refere à origem e destino do próprio ser humano.

PS: Esta reflexão é uma tentativa de síntese entre as visões de Sócrates, Karl Popper, Einstein e a forma prática de se gerar conhecimento nas organizações humanas produtivas de bens e serviços.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Miséria e pobreza

A miséria é um insulto à dignidade humana, principalmente quando se leva em conta que há recursos suficientes para estirpá-la. A pobreza, contudo, pode ser uma grande vantagem para o crescimento humano sadio. Ela induz ao trabalho e à realização de sonhos, desde que haja saúde e educação de qualidade para dar suporte ao esforço consciente de mudança.

Conheci pobres e ricos na infância. Alguns desses ricos caminharam para a pobreza por falta de incentivos. Alguns pobres melhoraram suas vidas pelo fato de terem aproveitado as oportunidades que lhes foram dadas. Aparentemente não havia muita diferença no grau de inteligência das pessos que fizeram caminhos inversos.

O fato de ter visto tais mudanças de posição deixaram-me sem ilusões quanto ao valor da riqueza material que não é conseguida com esforço próprio. Fiquei atento, ainda, para a indignidade da riqueza mal adquirida. Minha conclusão: a riqueza sem consciência pode ser pior do que a miséria, mas a pobreza digna pode ser uma grande riqueza.

Compreender e transformar

Os filósofos procuram compreender o mundo; os políticos, transformá-lo. Mas é preciso simultaneamente compreendê-lo e transformá-lo. A transformação começa no instante em que se faz a opção pelos valores - verdade, bondade, beleza, justiça, fraternidade -, e pela ação transformadora a cada instante: respeitando o outro e o meio ambiente, combatendo o desperdício, ordenando, limpando, buscando a vida saudável. Sobretudo, buscando e incentivando a liberdade pessoal centrada no conhecimento da realidade.

Como diz certo ditado popular: se você não mudar, nada muda. E o primeiro grande esforço de mudança seja, talvez, aprender a amar. Porque ainda que tudo mude fisicamente, que proveito o homem tira disso se não sente a alegria do amor incondicional? Mas, aprender a amar pode demorar. Talvez pudéssemos começar apenas pelo respeito e pela amizade. Já seria um grande passo!

domingo, 11 de janeiro de 2009

Certeza absoluta!

Eu tenho certeza absoluta de que sou falível e de que a verdade absoluta, embora deva existir, só está ao meu alcance por aproximação. Como Einstein, acredito que a lógica não gera conhecimento, mas apenas testa a consistência interna de raciocínios. Cada avanço, pois, só pode ocorrer por meio de intensa investigação da realidade que se procura conhecer, mas cada momento de verdade nos vem na forma de axiomas obtidos por intuição, cujas consequências lógicas devem ser deduzidas, mas cuja efetividade no mundo concreto só pode ser verificada por meio de experimentos.

Essa certeza absoluta é o axioma para evoluir em conhecimento da verdade que, no plano material, pode ser perseguida pelo racionalismo crítico proposto por Karl Popper. Nossa ciência, diz Popper, não nos dá verdades, e o método científico consiste em aprender com o erro. Como esse tipo inofensivo de certeza absoluta podemos prosseguir na vida caminhando do sensível para o inteligível, buscando a imanência que se esconde por trás da aparência do mundo que nos parece concreto.

A certeza absoluta de que o homem é falível é um axioma que pode ser confirmado por qualquer pessoa. Contudo, ela deixa margem para a busca do transcendente que está além do alcance do intelecto. O transcendente, para ser buscado, exige abertura para as possbilidades infinitas que se escondem por trás das aparências. Segundo Imanuel Kant, esse mergulho exige verdadeira fé, e não está ao alcance da análise puramente racional.

Guerra ou paz

Se vivermos de acordo com os nossos instintos apenas, viveremos em permanente estado de guerra. Nosso organismo reage automaticamente para satisfazer-se sem nenhum critério de moralidade, a menos que estejamos atentos para usar nossa razão. Como disse Freud, "a razão é uma fraca luz que insiste em iluminar a verdade". Entretanto, para usá-la precisamos de muito treinamento.

Uma vez que tenhamos conhecido momentos de paz -e isso ocorre naturalmente- podemos tomar a decisão de viver em paz. Para tal é preciso levar o interesse do outro em consideração, às vezes contra o nosso próprio interesse. Se formos capaz de perceber isso não haverá disputa alguma no encontro humano, e cada um poderá ajudar o outro a melhorar, sobretudo quando destaca os próprios defeitos ao invés de focar os defeitos do outro.

Assim, se a razão fizer da inteligência sua escreva, e não o contrário, sempre encontraremos uma solução que seja do interesse comum entre as partes. Para tal devemos compreender que a verdadeira arte da guerra não consiste em fazer guerra, mas procurar a paz.

Eventualmente isso exige estar tão bem preparado para a guerra real que o oponente nem mesmo pensará na possibilidade de guerrear conosco. Porém, a mais alta dignidade está em, sendo forte, abdicar-nos do uso da força para demonstrar nosso interesse pela paz.

Em busca de um mundo melhor

Se queremos um mundo melhor devemos construí-lo no dia-a-dia. A cada momento devemos enfrentar a responsabilidade de fazer as coisas que estão ao nosso alcance, tais como: ouvir e compreender antes de falar; respeitar a opinião do outro; usar as palavras mágicas por favor e muito obrigado; tomar a iniciativa para fazer o que deve ser feito; limpar e organizar o ambiente em torno de nós, entre outras coisas.

Se queremos um mundo melhor devemos ter a disposição de aprender por toda a vida, com qualquer um e em qualquer lugar. Antes de correr, devemos ter a coragem de aprender a andar. Como Sócrates, devemos olhar primeiro para dentro de nós, e procurar incesantemente o autoconhecimento. Como Buda, devemos cuidar desta vida enquanto não compreendemos a outra. Porém, de acordo com Cristo, podemos acreditar na vida após a vida e, então, agir aqui mesmo para construir o paraíso no qual gostaríamos de viver.

O método fundamental é intuitivo e está ao alcance de todos. Basta iniciar e manter a ação. Em seguida, e aos poucos, devemos aprender o método e as ferramentas de trabalho daqueles que deixaram suas marcas no mundo. Bons exemplos podem ser encontrados em Descartes, Galileu Galilei, Francis Bacon, Newton e Einstein. Esses homens acreditavam que existe um método para descobrir a verdade.

O mundo poderá ficar muito melhor se agirmos aqui e agora, a partir do nosso próprio bom senso. Mas poderá ficar melhor ainda se nos unirmos a outras pessoas para estudar e agir sobre os pequenos problemas que infernizam a vida no dia-a-dia. Sobretudo, deveríamos prestar atenção na praga emocional que pode nos dominar a qualquer momento, tornando-nos piores dos que os animais que chamamos de irracionais.

Então, é só olhar ao redor, identificar os problemas, refletir um pouco e começar a resolvê-los. Às vezes basta começar varrendo!