quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A intenção oculta

Todos os discursos podem ser bonitos, pois são planejados para atingir o público de acordo com suas necessidades. Eventualmente, a intenção é manifestada no discurso, mas é muito comum que ela seja oculta.

O estrategista da guerra, por exemplo, não pode tornar clara a sua estratégia. Antes, ele procura induzir no opositor a impressão de que a descobriu e, assim, força-o a desperdiçar seus esforços sem o saber. Ocultar a estratégia é fundamental para se tentar ganhar a guerra, se possível, somente na manobra.

Na política, Maquiavel deu o tom. Ele disse que o político deveria parecer religioso, mas agir como ateu. Deveria manifestar apreço à paz, mas preparar-se para a guerra. Deveria fazer o mal de uma só vez, e o bem aos poucos. A intenção verdadeira só ele mesmo deveria conhecer. Infelizmente, aprovemos ou não, essa estratégia é largamente usada hoje em dia.

Entretanto, quando se pressupõe parceria, e não competição, a intenção não pode ser oculta. Há necessidade de que se acredite na intenção, e que dela siga a prática equivalente. Daí a necessidade de que haja um histórico de confiança entre os parceiros. A curto prazo, toda boa intenção deve ser aceita com reserva, mas com um crédito de confiança; pois, a confiança, antes de tudo, é o pressuposto máximo da sociedade aberta.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Evolução racional

Freud conluiu que o ser humano é movido, principalmente, por emoções que se escondem no seu inconsciente; porém, ele também afirmou que "a razão é uma fraca luz que insiste em iluminar a verdade". Acredito que suas afirmações estão de acordo com o bom senso universal.

Uma evolução racional implica uma educação da emoção. Einstein alertou para a necessidade de que as emoções positivas sejam fixadas desde a primeira infância para que gerem resultados por toda a vida, ainda que ocorram recaídas eventuais. As posturas de Freud e Einstein, contudo, já haviam sido preconizadas por Platão, um dos primeiros a reconhecer que a emoção pode rebelar-se contra a razão e comandar o comportamento humano em muitas situações.

A evolução racional não pode prescindir do conhecimento sobre a natureza humana. Os costumes e hábitos provados de valor universal, presentes em todas as culturas, devem ser tomados como referência para o nivelamento educacional dos povos. Com essa base firmemente assentada, pode-se caminhar, conforme acredito, por meio de experimentos racionais e não apenas por reações a situações de calamidade. Essa estratégia de realizar experimentos foi adotada, por exemplo, por Gandhi para vencer, pela não-violência, a força letal do Império Britânico.

Ao perguntar sobre quais seriam as características universais de um ambiente apropriado à vida digna, tenho tido respostas do tipo: respeito, confiança, amizade, beleza, limpeza, ordem, justiça e misericórdia. Não há necessidade de teorias para promover o envolvimento das pessoas no nivelamento quanto a essas características universais. Basta sensibilidade humana de líderes que tenham, eles próprios, afinidade com essas características.

Simultaneamente, as pessoas devem ser levadas a exercitar a razão por meio de exercícios de raciocínio que conectem meios e fins. Trata-se de desenvolver em larga escala uma capacidade de pensamento estratégico ligado ao ciclo da ação racional. Alguns elementos desse ciclo são apresentados a seguir:

1) Partir da ideia de que se evolui: imitando, aperfeiçoando e inovando;
2) Combinar a solução do problema com a sistematização e operação das soluções encontradas;
3) Manter aceso o senso crítico para buscar fazer tudo de maneira mais simples, mais barata e alegre.

A evolução é um caminho inexorável pelos mecanismos impostos pela própria Natureza: dor e prazer. Mas, esse tipo de evolução é muito lento, dependendo de catástrofes que sirvam como educadoras do instinto. Contudo, a história da educação mostra que é possível acelerar a evolução cultural pelo uso da emoção em submissão à razão.

Esse processo racionalmente conduzido não pode prescindir de axiomas - por definição os axiomas não são passíveis de prova racional - sobre a origem e destino da vida. Para as pessoas que adotam esses axiomas a mudança pode acontecer num piscar de olhos, como se passassem por uma metanoia instantânea.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Algumas estratégias do pensamento

Eis algumas estratégias do pensamento usadas para resolver os problemas impostos pela vida:

1. Aprender com as boas práticas existentes. Isso implicar treinar e treinar até estar em condições de repetir, com perfeição, a boa prática tomada como referência.

2. Analisar os fatos e os dados do problema exaustivamente, agrupando-os de acordo com características comuns. Isso feito, podem-se identificar as lacunas de informação a serem preenchidas com novas pesquisas.

3. Partir do resultado desejado e desdobrá-lo quanto às características que devem ser desenvolvidas para se chegar lá. Isso é especialmente recomendado no caso de desenvolvimento de produtos.

4. Partir de um olhar prospectivo do todo, identificar as partes que precisam ser conhecidas, aprofundar-se na sua análise, comparar análises diferentes e bem-sucedidas dos mesmos tópicos e fazer a síntese final. Neste caso é preciso estar atento à intuição, que age de formar inconsciente sobre os problemas os quais analisamos conscientemente.

5. Ficar atento aos momentos especiais em que as ideias fluem com facilidade. Prestar atenção especial ao circuito TBC: trânsito, banheiro e cama.

6. Usar a imaginação para se fazerem simulações mentais completas sobre o problema. Há pessoas capazes de fazer, só com o pensamento, aquilo que outros precisam fazer com o apoio de anotações e esquemas. Desenvolver essa habilidade é um ótimo exercício para ampliar a capacidade de se pensar estrategicamente.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Pensamento do dia

"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os
poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto". (Ruy Barbosa)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O papel educador da realidade

Muitas pessoas morrem pelo efeito de vícios cujos resultados negativos lhes foram comunicados desde a infância. Algumas delas passaram por crises que, superadas, permitiram-lhes mudar o rumo de suas vidas. Outras, apesar de serem avisadas por crises preliminares, não as levaram em consideração. Outras, ainda, foram surpreendidas por crises fatais e, apesar de lúcidas, não puderam voltar atras. Eis como age a realidade.

Freud alertou-nos que o desejo quer satisfação imediata; mas que a realidade se impõe, quer impedindo essa satisfação, quer cobrando o preço em sofrimento. Naquilo que é vital, a realidade impõe-se contra todos os argumentos. Ela simplesmente ignora compaixão. Cabe-nos aprender com as dores dos outros sem necessitar experimentar os mesmos sofrimentos que vêm, por exemplo, com o uso excessivo de fumo, bebida e da língua.

Apesar de todos os exemplos, há sempre aqueles que ignoram a realidade até que ela se manifeste. Impiedosa, ela cobra todos os excessos. Ela educa pelo terror e, ao mesmo tempo, alerta para a educação que poderia fazer efeito com o amor e respeito às leis da natureza.

A longo prazo, a realidade é a maior educadora da Humanidade.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A estratégia em ação

Estratégia, para os efeitos deste texto, é a arte e ciência de coordenar meios para se atingirem fins. Embora, na guerra, a meta seja vencer na manobra, sem luta, a capacidade estratégica só se manifesta a quem está disposto a combinar teoria e prática.

A estratégia, após analisadas as condições internas e externas, é primeiro formada no pensamento, que pode alimentar um processo de planejamento formal, que transforma-se num plano, documentado ou não, que, por sua vez, alimenta o ciclo da atividade aqui chmado de Dinâmica do Conhecimento, já explicado em outras postagens.

A capacidade de pensar estrategicamente está presente em todas as pessoas, embora em graus diferentes. O exercício diário de pensar, tanto analisando os acontecimentos involuntários como os experimentos conduzidos intencionalmente, leva ao desenvolvimento dessa capacidade latente, atualizando, pelo movimento teórico-prático, o potencial existente. Esse potencial, por sua vez, é indeterminado, e só pode ser conhecido após ter sido realizado. Por isso, é importante que se creia que ele existe e que não tem limites conhecidos.

Estratégia e método estão intimamente interligados no conceito de Dinâmica do Conhecimento. Entretanto, algumas pessoas destacam a estratégia, considerando o método como sendo tácito e inerente. Outras destacam o método, considerando que a estratégia é tácita e inerente.

Os modelos para se compreender o pensamento estratégico devem ser buscados, principalmente, nos clássicos, tais como: A Arte da Guerra, Da Guerra, O Livro dos Cinco Aneis e Hagakure: a ética dos samurais e o Japão moderno. Em termos da competição empresarial, destacam-se os trabalhos de Michael Porter.

Quanto ao método, ele deve ser buscado, nas suas versões clássicas, nos filósofos e cientistas que se preocuparam em explicitá-lo, tais como: Descartes, Francis Bacon, Galileu Galileu, Newton e Einstein, este último tendo dado a versão mais atualizada sobre o mesmo.

Essas duas abordagens, da estratégia e do método, completa-se com o conhecimento sobre o comportamento humano, cujas bases téoricas podem ser encontradas, principalmente, nos grandes psicólogos e psicananlistas - por exemplo: Freud, Skinner e Jung, entre outros -.

Não se pode esquecer que as melhores fontes para a aprendizagem são os praticantes. Assim, as teorias tornam-se secundárias, embora importantes, quando se quer uma aprendizagem mais rápida e menos formal. Sobretudo, é necessário entrar em ação para aprender fazendo. Começa-se imitando, evolui-se pelo aperfeiçoamento e, por necessidade ou decisão, consolida-se a capacidade de inovar. A inovação traz os maiores riscos e, também, as maiores recompensas.