segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A dialética do fazendeiro (2)

Encontrei-me novamente com o Adriano, o meu amigo de Guanhães. Ele continua descrevendo experiências que demonstram sua sabedoria adquirida na escola da vida. Ele mostrou que não apenas vive, mas que examina sua vida cuidadosamente.

Como negociante, Adriano comprou terras e ganhou muito dinheiro. Após fazer um dos seus negócios lucrativos, aproveitou a ocasião para mostrar ao antigo patrão, com quem negociara, que sua humildade não coincidia com a tolice que lhe atribuíam.

Ele disse: - Peço a Deus, e não abro mão, que não me deixe ser simultaneamente bobo e humilde. Eu aceito ser bobo. Eu aceito ser humilde. Mas eu não aceito de Deus o presente de ser bobo e humilde ao mesmo tempo. Quanto a isso eu sou um protestante, apesar de ser um católico convicto.

Adriano mostrou saber separar muito bem um negócio de um ato de caridade. Ele foi caridoso muitas vezes, ajudando pessoas que estavam em dificuldades. As pessoas que lhe eram mais chegadas queriam convencê-lo de que estava agindo como um tolo. Mas ele reagiu com firmeza.

Disse Adriano: - Negócio é negócio. E eu sei quando estou negociando. Mas, quando vejo que um irmão ou amigo precisa de ajuda, não há quem me segure. Eu ajudo hoje, ajudarei amanhã, e eternamente ajudarei. Nisso vejo uma lei absoluta, e eu guardo essa lei no coração para não esquecê-la jamais. Não negocio quando ajudo a quem precisa. Dei, tá dado, pois tudo vem de Deus.

E continou: - Quando estou ajudando alguém, não respeito opinião contrária de quem quer que seja. Nesse momento, podem me chamar de bobo à vontade. Mas eu sei muito bem o que estou fazendo. E não deixo de agir de acordo com a minha consciência. Que Deus me livre de ser bobo e humilde ao mesmo tempo!

Quanto à sua religião, ele afirmou: - Sou católico e não abro mão disso. Aprendi com os meus pais a ir à missa. Aprendi a agradecer mais do que pedir. Confesso que não entendo de doutrina. Não estou em condições de discutir com opositores do catolicismo. Mas isso não importa, pois minha fé é inabalável. Só Deus mesmo para colocar isso no meu coração.

Adriano demonstrou estar atento ao verdadeiro jogo que move os homens: o poder. Especialmente o poder conferido pelo dinheiro. Ao tornar-se consciente disso, mantém-se alerta contra os espertalhões. Ele tornou-se um exíminio examinador da condição humana. Compadece-se do miserável que não teve oportunidade, mas não se impressiona com a miséria do preguiçoso.

Adriano, que afirma não ter atingido o grau de santidade de não levar desaforo para casa, procura evitar confusão. Ele é dos tais que dá um boi para não entrar numa briga, e uma boiada para não sair dela com desonra. O amigo comum que ouvia nossa conversa disse que ele é um santo pecador, mas ele disse ser apenas um pecador e que, por isso, não perde um bom negócio.