quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Sobrevivência?

A vida flui por motivos que lhe são inerentes, embora desconhecidos. A luta pela sobrevivência é, pois, natural. Entretanto, como o ser humano tem algum potencial racional, embora seja movido pela emoção, há que se perguntar: - sobreviver para quê?

De fato, como sabemos, não há sobrevivência no mundo relativo. Talvez a da espécie, e nem mesmo isso. Sabemos que as espécies também são extintas. No campo da economia, disse Keynes: - a longo prazo todos estaremos mortos.

Assim, nada mais racional do que aceitar que, na Terra, a sobrevivência, a longo prazo, é impossível. Resta-nos, então, questionar se sobrevivemos a esta vida. Os ateus dizem que não. Mas essa crença é muito simplória. Se ela corresponder à verdade não há o que temer, mas, também, não há por que lutar.

Fico, pois, com os grandes sábios: - a vida é imortal. E, a partir dai é que a conversa realmente começa. Paro por aqui.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Quando a inclusão não é social

A Visão Mundial Brasil tem um belo programa de inclusão social. Entretanto, há alguns anos fui contatato por um dos seus gerentes para opinar sobre um grande problema. Alguns dos incluídos financeiramente haviam piorado a vida de suas famílias. Preferiam gastar o dinheiro com jogos e amantes, ou até arranjar família nova. Não pude dedicar-me ao tema o suficiente para dar uma opinião válida sobre o assunto.

Recentemente tenho tido notíciais de que a bolsa família também está trazendo alguns problemas. Famílias inteiras estariam deixando de trabalhar, contentando-se com o pouco que lhes é garantido pelo governo. Assim, exterminam o próprio futuro, tornando-se dependentes perenes de ajuda. Contudo, ainda pergunto: - isso é tão mal assim? Não seria bem pior se, empreendendo, essas famílias tornassem-se ricas sem a devida educação para a sustentabilidade?

Noutro caso o incluído fez curso superior numa universidade de elite, aprendeu a ganhar dinheiro como profissional competente e tudo ia muito bem até que demonstrou sua insensibilidade. Recusou-se a cuidar da própria mãe idosa, em nome da qual recebera, de um parente, a ajuda para ser incluído socialmente. Seu argumento: - se ajudar minha mãe posso ser excluído socialmente por falta de dinheiro.

Estejamos, pois, atentos. Muitas vezes a inclusão é tudo, menos social.

sábado, 19 de dezembro de 2009

O método

Método é o caminho para se atingir a meta. Entretanto, muitas vezes tanto o caminho como a meta são desconhecidos. Mas o homem tem, dentro de si, meios para estabelecer metas e descobrir o caminho para atingi-las. Há que se pensar, então, num método dos métodos, capaz de conduzir o ser humano para realizar o seu potencial de realização pessoal e de transformação do meio em que vive.

De acordo com Karl Popper, respeitado epistemólogo do Século XX, esse método universal que, diga-se de passagem, não garante o sucesso, consiste no uso crítico da razão. Isso implica liberdade para pensar, observar, compartilhar ideias, levantar hipóteses, experimentá-las e eliminar os erros cometidos. Einstein esclareceu que usava um método dessa natureza.

Para colocar tal método em ação é necessário acionar o senso crítico. Há necessidade de disposição para aprender, seja imitando, aperfeiçoando ou rompendo com o existente. O ciclo a ser seguido é duplo: primeiro, desenvolve-se a solução; em seguida, ela deve ser sistematizada para uso em casos semelhantes. Nos casos de atividades repetitivas, dada a solução, basta agora seguir o caminho traçado e compartilhá-lo com o próximo.

Nos casos de descobertas casuais felizes, embora nem sempre se possa reconstruir o caminho e transformá-lo num método, é preciso pelo menos tentar rememorar as condições vigentes que levaram a tal descoberta. Isto poderá despertar a atenção para novas possibilidades futuras.

Vejamos, por exemplo, as condições genéricas para se terem boas ideias sobre qualquer assunto. Em primeiro lugar a pessoa precisa, ao longo da vida, acumular experiências, observações, contatos e leituras. Isso permite acumular uma bagagem a ser mobilizada em situações particulares. Por sua vez, ao se resolverem problemas particulares, fazem-se pesquisas específicas para a solução do problema em foco. Feitos os esforços pertinentes, muitas vezes as ideias só se manifestam em situações tais como: cavalgando, caminhando, dormindo, ou na intimidade do banheiro. Deve-se, então, ficar atento a tais situações.

Acredito que o método geral é inerente ao ser humano, mas precisa ser explicitado num formato de fácil compreensão para efeito de coordenção de esforços. Sua prática exige disciplina, exatamente pelo fato de, ao ser explicitado, parecer óbvio e, assim, tirar o incentivo à sua prática.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Essência e existência

Existimos na Terra. Mas nossa essência não é da Terra. Na Terra dependemos das condições de existência vigentes. A matéria dá-nos a estrutura do corpo e a massa muscular, mas nosso ser essencial depende da luz que vem de fora da Terra.

A importância dos ingredientes presentes no organismo humano pode ser vista pelo que acontece com a falta de cada um deles: pode-se viver até cerca de 45 dias sem comer; até cerca de três dias sem água, e até cerca de 10 minutos sem oxigênio. Contudo, vive-se vegetativamente, como morto-vivo, sem a luz da razão espiritual.

Os idealistas puros levam em conta o nosso ser ideal, que é pura luz. Os materialistas grosseiros levam em conta nossa base material, que é apenas um suporte do ser na Terra. Os materialistas dialéticos afirmam que a consciência de ser deriva do processo existencial na Terra.

Os sábios e santos teo-orientados afirmam que o ser é eterno e que o existente é passageiro. Sob essa perspectiva, o primeiro homem foi feito do pó da Terra e recebeu o sopro divino. Esse homem, optando pela busca do conhecimento absoluto, usando a razão, tornou-se presa da existência relativa e perdeu o contato com sua essência absoluta.

À essência só se chega pela fé (Einstein). A existência só se sustenta pela ação (Marx). A vida na Terra exige interação entre o ideal e o material, mas a meta final é a vida com Deus (Jesus Cristo). O pensamento, o sentimento e a ação estão internectados, e o conhecimento absoluto deve ceder lugar ao conhecimento prático (dialética materialista, capitalista ou marxista). Entre ambos fica a especulação teológica, seja anti-científica ou ateia prática.

Segundo o Cristianismo (minha visão de mundo), o primeiro homem, Adão, perdeu-se na existência relativa. Um novo homem foi enviado ao mundo para restaurar a esperança na eternidade da essência. A essência, Cristo - a Luz, o Verbo - encarnou-se na forma do existente na Terra, Jesus. Jesus Cristo tornou-se o novo modelo para o homem perfectível. Nele se concretiza o absurdo sob o ponto de vista da razão pura. Ele foi homem que, por definição, é falível. Mas tinha a mesma substância de Deus que, por definição, é infalível.

Jesus esteve no mundo. Cristo é eterno. O homem adâmico existe no mundo relativo. Cristo existe no mundo absoluto da essência. Todo homem, em Cristo, tem a essência dentro de si. Quando o Adão que há em si deixar de existir, sua essência desabrochará em pura luz, se tiver feito opção pela Verdade.

Mas, é preciso viver na Terra mesmo que o mistério não tenha sido desvendado. Assim, é conveniente buscar o caminho do meio em tudo (Buda e Aristóteles). Mas sempre visando à vida com Deus, pela fé que se concretiza na prática (Jesus Cristo). Pode-se chegar à paz pela prática da virtude (Platão), ou pela fé e as virtudes dela decorrentes (Paulo, interpretando Jesus Cristo); porém, a fé sem prática é morta (Tiago).

Assim, é preciso caminhar pela fé, praticando as virtudes dela decorrentes; ou, buscando as virtudes pela prática, ir de encontro à verdade durante a caminhada. Sob esse ponto de vista, não há diferença entre o ateu e o crente, desde que ambos estejam buscando a verdade. Uns dizem: acredito, mas não praticam a Palavra. Outros dizem: não acredito, mas praticam o que pressupõe a Palavra.

Pode-se dizer, então que: 1) na Terra, para quem não tem fé na essência, a existência cria a essência; 2) para o homem de fé prática, a essência dirigi-lhe a existência. Ambos, em cada momento, só caminham pela fé, seja ela religiosa ou não. Aquele que diz que tem fé e não pratica as obras da fé, pode tornar-se inoperante ou destrutivo. Aquele que se comporta como totalmente isento de fé - existe esse tipo? -, pode tornar-se igualmente inoperante ou destrutivo.

Sob a perspectiva Cristã (que defendo), é preciso usar a razão, mas condicionando-a à prática. E isso exige que se caminhe com fé, amor e esperança, o que implica viver na loucura de Jesus Cristo, aceitando os mistérios do conhecimento imperfeito. Nada disso pode ser tido como escândalo se levarmos em consideração que aceitamos, com naturalidade, conceitos e convenções tais como: número pi, raiz quadrada de dois, raiz de menos 1, entre outros mistérios da matemática.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A dialética do fazendeiro

Para se viver (bem) dos frutos da fazenda, é preciso ser muito perseverante, fisicamente resistente e mentalmente ágil; e isso só se aprende na prática. Adriano, meu amigo de Guanhães, demonstrou-me essas qualidades. Ele herdou, mas sabe conservar e aumentar. Educa seus filhos da forma como foi educado, mas sabe ser flexível. Transcrevo abaixo, com alguns ajustes, parte de suas reflexões feitas no nosso último encontro.

A coisa está ruim, mas está boa. O Brasil tem quinhentos anos, mas tudo mudou rápido demais nos últimos quinze anos (escrevo em 2003). Coisas demais para pessoas humildes e despreparadas para o grande jogo da competição. As máquinas chegaram para tornar tudo mais fácil, mas criaram a exclusão pela eliminação da necessidade de mão-de-obra. Os que foram eliminados têm filhos para cuidar, vontades para satisfazer. Devem morrer de fome? Devem passar vontades? Devem tomar aquilo de que precisam?

Eu posso estar certo, eu posso estar errado. Em algumas coisas sei que estou certo, em outras eu, talvez, esteja errado. Mas naquilo que estou certo, estou certo, e não abro mão, exceto se estiver errado. Procuro ensinar meus filhos com uma calculadora na mão, como meu pai fez comigo. É difícil educar os filhos. Eles dizem “eu quero, e quero, quero e quero”. Mas é preciso dizer para eles: - Não posso dar o que você quer. A vida é dura. Na ponta do lápis, só me sobra isso por mês para cuidar de tudo.

Digo aos que não têm tempo para ir à missa: - Você tem de ir à missa, porque ainda depende de mim, e eu exijo isso de você. O dia tem 24 horas e a semana tem sete dias, portanto, você tem que tirar uma hora, no mínimo, para agradecer à Deus por tudo que ele fez por você, por meu intermédio. Não peça nada, apenas agradeça. Nós não criamos este mundo, portanto, devemos agradecer ao Criador.

Sobre política, Adriano afirmou: - Se cada município for bem administrado, fica mais fácil para os governos estadual e federal fazerem os seus papéis. Tudo começa no pequeno, e é no município que os problemas do município devem ser resolvidos. Não se pode dizer que o povo escolhe mal seus representantes, pois cada um vota naquele que, mediante sua capacidade de julgamento, é o melhor. O povo pode errar, mas não erra por querer. Então, o povo não pode ser acusado de não saber escolher; precisa ser educado para escolher, com o tempo. Eu posso estar errado, pois não tenho cultura, mas assim vejo, e assim diz a minha experiência.

Resumindo, disse Adriano: - Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca termine. Deve haver uma solução. Mas ela passa pelo controle da vontade. É preciso educar a moçada nova, que quer tudo. “Quero, quero e quero...”. Com certeza não chegaremos a bom destino se quisermos tudo, enquanto o outro não tem nada. Só Deus mesmo para resolver essa confusão. Disso tenho certeza, e não aceito negação, arrematou com a sua dialética do bom senso.

Creio que o Adriano, não sendo santo nem formalmente instruído, demonstrou grande sabedoria em suas colocações, aprendidas na Universidade da Vida. Algumas de suas práticas, embora não todas, constituem a base da criação da riqueza material e moral. Há muito o que aprender com pessoas como ele!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Os Cinco Sensos da Sustentabilidade

Eis os Cinco Sensos da Sustentabilidade, em anologia com o Programa 5S, que devem ser desenvolvidos nas pessoas:

Senso de Utilização
Visando ao estabelecimento da responsabilidade pela utilização responsável dos recursos materiais e humanos disponíveis.

Senso de Ordenação
Visando a ordenar meios para se atingirem fins, com o mínimo de esforço e o máximo de resultados.

Senso de Limpeza e Transparência
Visando a criar e manter ambientes físicos e sociais limpos e agradáveis para se divertir e trabalhar.

Senso de Saúde e Segurança
É o grande resultado esperado da ação racional humana.

Senso de Autodisciplina
É o motor da ação consciente. Seu ponto de partida é a disciplina imposta por necessidade, mas sempre visando à autonomia que só se consegue com a autodisciplina.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O covarde, o corajoso e o tolo

O covarde viu a oportunidade mas, de medo, não tentou aproveitá-la. Passou a informação ao corajoso que investigou a situação, investiu, correu os riscos pertinentes e ficou rico. Ao ver os resultados finais, o covarde foi reivindicar a sua parte, pois fora ele quem detectara a oportunidade. O corajoso deu-lhe algumas migalhas apenas. O tolo, ouvindo a história, começou a prestar atenção à sua volta. Pensou estar diante de um oportunidade, investiu tudo que tinha sem investigar o potencial do negócio e perdeu tudo.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O propósito da vida

Para a criança, o propósito da vida é viver. Esse propósito se impõe automaticamente, pois a criança só quer e só sabe viver. Ela tem o impulso de vida e o instinto de sugar tudo ao seu redor para manter-se viva, mas não tem domínio próprio para viver com autonomia. A criança precisa crescer.

Com o tempo percebe-se que só é possível viver, verdadeiramente, se há autocontrole. E isso implica conhecer a si mesmo, ao outro e à natureza. Tais conhecimentos podem ser adquiridos ao longo da vida, um pouco de cada vez. Então, fica parecendo que o verdadeiro propósito da vida é conhecer. E, para conhecer, é preciso experimentar.

Quando vem a maturidade, percebe-se que o tempo de vida não é suficiente para experimentar tudo, e que é preciso, além de aceitar a experiência alheia, aceitar a ignorância como uma realidade inexorável. E isso pode gerar desespero.

O conhecimento profundo, por outro lado, embora deva ser buscado em meio à experiência, não vem diretamente da experiência, nem da lógica, embora ambos sejam parte essencial da vida racional. O conhecimento profundo vem da intuição - que alguns místicos chamariam de revelação -. A intuição, por sua vez, só acontece com quem tem experiência, reflete sobre ela e dedica parte do seu tempo ao ócio criativo.

A mais alta intuição nos leva à ideia de Deus, embora os ateus discordem disso, em parte por causa dos maus exemplos da religião formal. Mas, pelo que se sabe, Deus não é um objeto do conhecimento humano. A Ele só se pode conhecer indiretamente, por meio da paz de espírito infundida pela Sua presença invisível. A paz que vem de Deus, se não vivenciada diretamente, pode ser percebida na vida dos santos e sábios. Ler sobre eles é um bom exercício.

Embora a vida seja permeada por guerra e paz, amor e ódio, entre outras emoções, o seu propósito é descobrir, e então viver na suprema paz do amor de Deus. Isso é viável, embora seja difícil, pois, se a paz de Deus está em todo lugar, ela está, também, dentro do homem. Ela é o verdadeiro tesouro à espera de ser encontrado e usufruído.

Se compreendermos isso, podemos dar à riqueza material o seu devido valor, nem mais nem menos e, assim, transformar tudo ao nosso redor. Pode-se começar limpando e deixando de sujar o ambiente físico e social em torno de nós.