sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Essência e existência

Existimos na Terra. Mas nossa essência não é da Terra. Na Terra dependemos das condições de existência vigentes. A matéria dá-nos a estrutura do corpo e a massa muscular, mas nosso ser essencial depende da luz que vem de fora da Terra.

A importância dos ingredientes presentes no organismo humano pode ser vista pelo que acontece com a falta de cada um deles: pode-se viver até cerca de 45 dias sem comer; até cerca de três dias sem água, e até cerca de 10 minutos sem oxigênio. Contudo, vive-se vegetativamente, como morto-vivo, sem a luz da razão espiritual.

Os idealistas puros levam em conta o nosso ser ideal, que é pura luz. Os materialistas grosseiros levam em conta nossa base material, que é apenas um suporte do ser na Terra. Os materialistas dialéticos afirmam que a consciência de ser deriva do processo existencial na Terra.

Os sábios e santos teo-orientados afirmam que o ser é eterno e que o existente é passageiro. Sob essa perspectiva, o primeiro homem foi feito do pó da Terra e recebeu o sopro divino. Esse homem, optando pela busca do conhecimento absoluto, usando a razão, tornou-se presa da existência relativa e perdeu o contato com sua essência absoluta.

À essência só se chega pela fé (Einstein). A existência só se sustenta pela ação (Marx). A vida na Terra exige interação entre o ideal e o material, mas a meta final é a vida com Deus (Jesus Cristo). O pensamento, o sentimento e a ação estão internectados, e o conhecimento absoluto deve ceder lugar ao conhecimento prático (dialética materialista, capitalista ou marxista). Entre ambos fica a especulação teológica, seja anti-científica ou ateia prática.

Segundo o Cristianismo (minha visão de mundo), o primeiro homem, Adão, perdeu-se na existência relativa. Um novo homem foi enviado ao mundo para restaurar a esperança na eternidade da essência. A essência, Cristo - a Luz, o Verbo - encarnou-se na forma do existente na Terra, Jesus. Jesus Cristo tornou-se o novo modelo para o homem perfectível. Nele se concretiza o absurdo sob o ponto de vista da razão pura. Ele foi homem que, por definição, é falível. Mas tinha a mesma substância de Deus que, por definição, é infalível.

Jesus esteve no mundo. Cristo é eterno. O homem adâmico existe no mundo relativo. Cristo existe no mundo absoluto da essência. Todo homem, em Cristo, tem a essência dentro de si. Quando o Adão que há em si deixar de existir, sua essência desabrochará em pura luz, se tiver feito opção pela Verdade.

Mas, é preciso viver na Terra mesmo que o mistério não tenha sido desvendado. Assim, é conveniente buscar o caminho do meio em tudo (Buda e Aristóteles). Mas sempre visando à vida com Deus, pela fé que se concretiza na prática (Jesus Cristo). Pode-se chegar à paz pela prática da virtude (Platão), ou pela fé e as virtudes dela decorrentes (Paulo, interpretando Jesus Cristo); porém, a fé sem prática é morta (Tiago).

Assim, é preciso caminhar pela fé, praticando as virtudes dela decorrentes; ou, buscando as virtudes pela prática, ir de encontro à verdade durante a caminhada. Sob esse ponto de vista, não há diferença entre o ateu e o crente, desde que ambos estejam buscando a verdade. Uns dizem: acredito, mas não praticam a Palavra. Outros dizem: não acredito, mas praticam o que pressupõe a Palavra.

Pode-se dizer, então que: 1) na Terra, para quem não tem fé na essência, a existência cria a essência; 2) para o homem de fé prática, a essência dirigi-lhe a existência. Ambos, em cada momento, só caminham pela fé, seja ela religiosa ou não. Aquele que diz que tem fé e não pratica as obras da fé, pode tornar-se inoperante ou destrutivo. Aquele que se comporta como totalmente isento de fé - existe esse tipo? -, pode tornar-se igualmente inoperante ou destrutivo.

Sob a perspectiva Cristã (que defendo), é preciso usar a razão, mas condicionando-a à prática. E isso exige que se caminhe com fé, amor e esperança, o que implica viver na loucura de Jesus Cristo, aceitando os mistérios do conhecimento imperfeito. Nada disso pode ser tido como escândalo se levarmos em consideração que aceitamos, com naturalidade, conceitos e convenções tais como: número pi, raiz quadrada de dois, raiz de menos 1, entre outros mistérios da matemática.

Nenhum comentário:

Postar um comentário