terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A dialética do fazendeiro

Para se viver (bem) dos frutos da fazenda, é preciso ser muito perseverante, fisicamente resistente e mentalmente ágil; e isso só se aprende na prática. Adriano, meu amigo de Guanhães, demonstrou-me essas qualidades. Ele herdou, mas sabe conservar e aumentar. Educa seus filhos da forma como foi educado, mas sabe ser flexível. Transcrevo abaixo, com alguns ajustes, parte de suas reflexões feitas no nosso último encontro.

A coisa está ruim, mas está boa. O Brasil tem quinhentos anos, mas tudo mudou rápido demais nos últimos quinze anos (escrevo em 2003). Coisas demais para pessoas humildes e despreparadas para o grande jogo da competição. As máquinas chegaram para tornar tudo mais fácil, mas criaram a exclusão pela eliminação da necessidade de mão-de-obra. Os que foram eliminados têm filhos para cuidar, vontades para satisfazer. Devem morrer de fome? Devem passar vontades? Devem tomar aquilo de que precisam?

Eu posso estar certo, eu posso estar errado. Em algumas coisas sei que estou certo, em outras eu, talvez, esteja errado. Mas naquilo que estou certo, estou certo, e não abro mão, exceto se estiver errado. Procuro ensinar meus filhos com uma calculadora na mão, como meu pai fez comigo. É difícil educar os filhos. Eles dizem “eu quero, e quero, quero e quero”. Mas é preciso dizer para eles: - Não posso dar o que você quer. A vida é dura. Na ponta do lápis, só me sobra isso por mês para cuidar de tudo.

Digo aos que não têm tempo para ir à missa: - Você tem de ir à missa, porque ainda depende de mim, e eu exijo isso de você. O dia tem 24 horas e a semana tem sete dias, portanto, você tem que tirar uma hora, no mínimo, para agradecer à Deus por tudo que ele fez por você, por meu intermédio. Não peça nada, apenas agradeça. Nós não criamos este mundo, portanto, devemos agradecer ao Criador.

Sobre política, Adriano afirmou: - Se cada município for bem administrado, fica mais fácil para os governos estadual e federal fazerem os seus papéis. Tudo começa no pequeno, e é no município que os problemas do município devem ser resolvidos. Não se pode dizer que o povo escolhe mal seus representantes, pois cada um vota naquele que, mediante sua capacidade de julgamento, é o melhor. O povo pode errar, mas não erra por querer. Então, o povo não pode ser acusado de não saber escolher; precisa ser educado para escolher, com o tempo. Eu posso estar errado, pois não tenho cultura, mas assim vejo, e assim diz a minha experiência.

Resumindo, disse Adriano: - Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca termine. Deve haver uma solução. Mas ela passa pelo controle da vontade. É preciso educar a moçada nova, que quer tudo. “Quero, quero e quero...”. Com certeza não chegaremos a bom destino se quisermos tudo, enquanto o outro não tem nada. Só Deus mesmo para resolver essa confusão. Disso tenho certeza, e não aceito negação, arrematou com a sua dialética do bom senso.

Creio que o Adriano, não sendo santo nem formalmente instruído, demonstrou grande sabedoria em suas colocações, aprendidas na Universidade da Vida. Algumas de suas práticas, embora não todas, constituem a base da criação da riqueza material e moral. Há muito o que aprender com pessoas como ele!

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