quarta-feira, 29 de abril de 2009

Cidadão do mundo

Atualmente, embora ainda persistam as divisões territoriais e direitos e deveres nacionais, a tecnologia da informação já permite consolidar a ideia de cidadão do mundo.

Entenda-se o termo cidadão como significando o indivíduo consciente de suas responsabilidades perante a Humanidade e o Planeta. Ele deve ser produtivo no sentido apontado pelas religiões e filosofias que aceitam o conceito de sociedade aberta.

Talvez seja o caso de se olhar para o passado a fim de se resgatarem os aspectos válidos dos modelos da Grécia Antiga, com alguns elementos do direito romano, para integrá-los às conquistas ocorridas desde então, tendo em vista as necessidades atuais. Outras civilizações, obviamente, poderiam ser fonte de aprendizagem.

O conhecimento reflexivo, da linha socrática, poderia, na minha opinião, integrar-se ao conhecimento produtivo, da linha pragmática, porém sob a coordenação de uma ética centrada na responsabilidade ao invés da ética centrada exclusivamente em resultados.

Enfim, acredito que haja margem para a atualização de conceitos que não sejam mero sincretismo, mas o núcleo central de verdades filtradas a partir da experiência histórica.

O cidadão do mundo, conforme acredito, pode ter qualquer religião ou credo político, desde que se exima de julgar a consciência alheia e de impor ao outro sistemas fechados dirigidos por líderes autoritários.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Lei, razão, fé e amor: uma síntese

A civilização impõe que o ser humano egoísta seja submetido ao império da lei. A lei natural, que se impõe por si mesma, precisa ser descoberta e explicitada pela ciência. Esta, por sua vez, depende de que se combinem lógica e intuição, razão e sensibilidade, além de fé na existência daquilo que se busca.

Contudo, a felicidade plena, o maior bem que o ser humano realmente busca, só pode ser encontrada no amor, embora isso pareça mera utopia. No plano das relações humanas, enquanto não prevalecer o amor, é preciso enfatizar a lei que decorra do consenso dos agentes sociais em interação. A História demonstra que, quando o consenso não decorre do diálogo exaustivo, a lei é imposta pela parte que vence o conflito pela violência.

Com o tempo aprende-se que a convivência pacífica de múltiplas visões de mundo, desde que não-excludentes, exige que se usem termos com significados universalmente aceitos. A fé poderia ser substituída pela confiança que, segundo afirmam alguns economistas, seria uma premissa até mesmo e, talvez, principalmente, do sistema capitalista. A razão é um termo que pode ser mantido, mas necessita-se reconhecer as suas limitações.

O amor tem a sua base mínima no respeito, na solidariedade e na amizade. Quando, ocasionalmente, ele prevalece, o paraíso se instala entre os seres humanos.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O sentido da vida (Cora Coralina, poetisa goiana)

"Não sei...
se a vida é curta ou longa demais pra nós,
mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que acaricia,
desejo que sacia,
amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não
seja nem curta, nem longa demais,
mas que seja intensa,
verdadeira,
pura...enquanto durar....“

(Cora Coralina)

domingo, 26 de abril de 2009

Máximas da Bíblia Sagrada

A Necessidade de Autodisciplina
(Genesis 4:7)

(...); o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo.


A Regra de Ouro
(Mateus 7:12)

Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a lei, e os profetas.


A Lei Real
(Romanos 13:10)

O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor.


A Verdadeira Religião
(Tiago 1:27)

A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.


A Sabedoria do Diálogo
(Tiago 1:19)

(...). Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.


O Grande Mandamento
(Mateus 22:34-40)

(...): Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.

sábado, 25 de abril de 2009

Não há aprendizagem sem erro

Se alguém disser que nunca errou, presume-se que ele seja uma espécie de divindade, pois aquele que nunca errou também nunca aprendeu: nasceu sabendo. Parece que alguns animais, de fato, nascem sabendo, mas nem todos.

Quanto ao ser humano, ele precisa aprender sempre, pois poderá encontrar muitas situações novas na vida. Dai, é preciso estar consciente de que: 1) algumas coisas - a maioria - precisam ser aprendidas com quem já sabe; 2) tudo pode, e às vezes deve, ser melhorado; 3) às vezes é necessário aprender coisas completamente novas, seja por uma questão de vida ou morte diante do perigo ou por projeção de que o futuro depende desse tipo de aprendizagem.

Diante desse tipo de evidência, Karl Popper, o grande epistemólgo, afirmou que "o método em ciência consiste em aprender com a eliminação de erros". Essa constatação é importante no processo educativo que, infelizmente, pune o erro ao invés de promover a aprendizagem até que ela se complete e o educando possa ser considerado apto a aprender por toda a vida.

Assim, penso na tolice que é dar um diploma a um médico com conceito A (90% ou mais de acertos em suas provas) e a outro dar o mesmo diploma com conceito D (entre 60 e 75% de acertos).

No caso do conceito D, o significado imediato é que não foi dado ao médico a oportunidade de aprender com o erro até conseguir o conceito A, mas foi-lhe permitido errar durante o exercício da profissão, o que é muito grave.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Educação da mentalidade

Sobre a perspectiva cultural, o homem não é um predestinado, pois a qualquer momento pode mudar o seu curso de ação por iniciativa própria ou por necessidade de reagir às condições ambientais que lhe são impostas. Seu maior tesouro é adquirir, desde cedo, a mentalidade que moldará as suas escolhas.

Se alimentado com a crença certa, o ser humano poderá realizar potenciais latentes nunca imaginados por seus observadores. Se, por outro lado, for alimentado com a crença na impossibilidade de mudar sua condição, poderá viver na miséria em meio à abundância latente em torno e dentro de si.

É preciso, pois, criar o ambiente emocional adequado, envolvendo as crianças em situações que fixem nelas uma mentalidade básica que as conduza durante o seu desenvovimento. A essência dessa mentalidade está na crença de que a auto-emancipação depende do conhecimento: de si mesmo, do outro e da natureza.

Entretanto, é preciso ter em mente que, enquanto não se adquire conhecimento suficiente da realidade, é necessário tomar como referência para a ação os valores universais filtrados da experiência histórica.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

O padrão como conceito operacional da verdade

A existência no mundo implica que o ser humano é obrigado a: 1) seguir padrões existentes; 2) melhorar os padrões existentes; 3) romper com os padrões existentes, colocando outros no seu lugar. E isso tendo em vista ser "verdadeiro".

Na religião, os padrões de "verdade" são implementados por meio de dogmas e rituais. Na filosofia, por meio de máximas que resultam da reflexão. Na ciência positiva, por meio de leis objetivas representadas por modelos matemáticos. Na tecnologia, os padrões estão embutidos nos bens e serviços e devem transformar-se nos resultados buscados pelos usuários finais. No mundo dos negócios os padrões, tácitos ou explícitos, expressam-se no consenso entre as partes em negociação.

Na política, pressupõe-se que os conservadores tenham bons padrões a serem conservados. Eles não querem mudanças, a não ser que sejam muito lentas e que não tragam muito desconforto aos que estão satisfeitos com a situação vigente. Os liberais humanistas desejam melhorias progressivas, com manutenção e mudanças programadas racionalmente. Já os revolucionaríos querem o novo, correndo todos os riscos inerentes à inovação.

Assim, o padrão pode representar: 1) a verdade revelada e/ou descoberta, porém confirmada pela experiência diária; 2) a "verdade" operacional, decorrente de testes empíricos objetivamente conduzidos; 3)a "verdade" obtida por consenso decorrente do diálogo democrático; 4) a "verdade" presumida em hábitos herdados da tradição e preservadas pela cultura, com maior ou menor participação de autoridades formais.

Em todos os casos, os padrões são conceitos operacionais da "verdade".

quinta-feira, 16 de abril de 2009

O bom senso universal aplicado

Tenho lido muitos livros sobre história, incluindo história da civilização, da educação, da filosofia, da ciência e da técnica. Leio sempre tentando tirar uma lição. Mas a principal lição que tirei até agora foi que existe um bom senso universal permeando a experiência humana. Ele é fruto tanto do senso comum como do senso crítico científico. Essa lição, posta em prática, poderia ser representada pelos seguintes passos:

1 - fazer o que está ao alcance de cada um, aqui e agora, para melhorar as condições de vida em torno de si. Os problemas que podem ser prontamente atacados são, entre outros: fofoca, incompreensão na comunicação, sujeira física e nas relações humanas, desorganização, desperdícios de toda natureza, ausência de hábitos saudáveis;

2 - refletir, individualmente e em grupo, sobre as causas que criaram a situação e buscar eliminá-as sistematicamente;

3 - criar ambientes alegres em que as pessoas se respeitem;

4 - estudar o método de gerar conhecimento usado nas situações tidas como modelo, testar e difundir o método de acordo com o nível dos participantes da comunidade de referência;

5 - manter encontros em que se relatam os avanços obtidos na solução dos problemas levantados bem como sobre os problemas remanescentes;

6 - quando necessário, documentar os resultados de forma que todos possam consultar os documentos gerados.

Esse roteiro genérico, adaptado às circunstâncias, é um caminho já provado de como agir com intenção e racionalidade, consilidando um bom sistema de gestão e educação para a transformação social.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Os sistemas de orientação e devoção

Erich Fromm ressaltou que o ser humano comum tem necessidade de pertencer a um sistema de orientação e devoção. Esse sistema seria a sua religião, se o termo for tomado em sentido amplo. Sob esse ponto de vista todo ser humano é religioso.

Um traço comum à História, que atualmente parece ter sido exacerbado, é o predomínio da religião de resultados em termos de fama, poder e dinheiro. Atualmente tem havido intensa pregação desse tipo de religião nos meios de comunicação.

As pessoas que estão na fase de formação do seu caráter são induzidas, ao invés de lutar por autonomia, a associar-se à religião do consumo e do prazer imediato. As bases da civilidade estão sendo corroídas de maneira visível.

Por outro lado, os indivíduos estão tendo novas oportunidades de formar sistemas globais em redes em susbstituição aos sólidos sistemas que lhe davam suporte, como as empresas e as religiões tradicionais. E isso inclui, naturalmente, a formação de redes de reflexão sobre o certo e o errado.

Ao lado da religião da aparência, tem havido lugar para a religião da essência. A grande vantagem dos tempos atuais é que não se pode mais impor opiniões e crenças. Assim, há a possibilidade de que os sistemas de orientação e devoção sadios tornem-se mais visíveis para aqueles que estão no processo de busca.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

As condições fundamentais para o desenvolvimento humano

O desenvolvimento humano sadio pressupõe que se coloquem em prática alguns conceitos fundamentais, de forma tácita ou explícita. O trio potência/movimento/ato está entre os conceitos que vale a pena compreender.

O trio acima foi explicado por Aristóteles e tem grande valor prático. Por meio dele aprendemos que só poderemos ser aquilo que, em potencial, já somos. Mas a busca daquilo que já somos em potencial depende de nossas crenças, pois são elas nos dão a força para iniciar e manter o movimento que leva à transformação da potência em ato.

Exemplo tirado da natureza: - O grão de arroz é, potencialmente, um pé de arroz com muitos cachos e muitos grãos. Entretanto, para que a realidade final de concretize, é preciso preparar o terreno, plantar o grão e fornecer-lhe os ingredientes necessários para que ele se transforme naquilo que, potencialmente, já é.

Aplicação para a condição humana: - O homem tem potencial de construir ou de destruir. Para que prevaleça o potencial construtivo é preciso satisfazer as necessidades básicas do ser humano que, segundo o psicólogo humanista Abraham Maslow, são as seguintes, em termos gerais: fisiológicas, de segurança, sociais, de estima e auto-realização. Maslow afirmou que as capacidades humanas clamam para ser usadas e não cessam o seu clamor enquanto não forem completamente usadas.

Já Erich Fromm ressaltou a necessidade de que se esteja atento ao potencial destrutivo inerente ao ser humano. Este potencial deve ser redirecionado por diversos artifícios, tais como: o esporte, a arte e o empreendedorismo, entre outros. Em útlimo caso ele deve ser simplemente reprimido para que não se realize.

domingo, 12 de abril de 2009

O que significa inclusão social?

Não há dúvidas de que a existência de miseráveis é um péssimo negócio para todos. Principalmente pelo fato de que, não tendo nada a perder, eles adquirem o direito de destruir aqueles que desfrutam da vida que gostariam de ter.

Não há dúvida, ainda, de que os incluídos ao sistema de produção e consumo destrutivos são o principal problema da Humanidade. Eles têm o hábito de consumir todos os recursos, renováveis ou não, algumas vezes contaminando o meio ambiente com subprodutos venesosos.

Portanto, há que se pensar a inclusão social sob duas perspectivas: 1) os que estão fora do sistema de vida saudável por não terem acesso aos recursos necessários à existência digna; 2) os que, tendo acesso a tais recursos, desperdiçam-no e tornam o meio ambiente cada vez menos apropriado à vida saudável.

A inclusão verdadeira pressupõe educação de qualidade para: 1) a produção e distribuição de riquezas para que não haja carência ou despertício de recursos; 2) o convívio respeitoso com todos que respeitam os seus semelhantes.

sábado, 11 de abril de 2009

Autodisciplina

O ser humano, conforme já se disse, tem de seguir, sair do caminho ou liderar. Ele tem de decidir, ainda, se prefere ser disciplinado por outro ou se prefere assumir o controle de sua vida e disciplinar a si próprio.

Autodisciplina, portanto, é uma qualidade-chave para a vida digna. Outras expressões para essa qualidade poderiam ser, por exemplo: autodomínio, domínio próprio, autocontrole e autogestão.

A autodisciplina, conforme afirmou Abraham Maslow, só é natural em cerca de 2% da população. A maioria das pessoas precisa de supervisão, mas é preciso que todas elas possam crescer nessa qualidade libertadora.

A autodisciplina, em sentido, pleno, pressupõe conhecimento: de si mesmo, do outro e da natureza. Por isso trata-se de um processo evolutivo, e não de um bem que se possa comprar ou adquirir a curto prazo pelo exercício da vontade.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Educação para a democracia

A democracia que gera os melhores resultados deve ter como pano de fundo a arte de lidar com a dinâmica do conhecimento.

Essa dinâmica pressupõe, por sua vez, que a busca do conhecimento dever ser orientada por principios universalmente compartilháveis.

Na democracia todos têm o direito de dar ideias, mas é preciso filtrar essas ideias em função do seu potencial de alcançcar os resultados desejados e, mediante negociação, obter o apoio necessário para implementá-las.

Quanto aos problemas do dia-a-dia, as pessoas mais simples e, eventualmente, sem instrução formal, podem ser a fonte mais confiável de ideias com potencial de obtenção de resultados.

À medida que aumenta a complexidade dos problemas, exige-se dedicação de pessoas vocacionadas para a ciência e, assim, desaparece a possbilidade de que todos possam dar os seus palpites quanto às relações de causa-e-efeito operantes.

Contudo, conforme alertou Péricles na Antiga Grécia, embora nem todos possam criar políticas viáveis, todos estão em condições de julgar os seus resultados.

Assim, a democracia pressupõe, entre outros fatores: 1) ouvir a todos, mas não implementar todas as ideias; 2) educar o povo para que todos saibam a diferença entre opinião, crença e saber; 3) criar condições para o permanente exercício crítico da dinâmica do conhecimento em todas as atividades.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Integração das faculdades humanas

As faculdades humanas fundamentais - pensar, sentir, agir e comunicar-se - na maioria das vezes estão desajustadas.

Porém, sabemos que todo resultado que vem da ação prática já está contido no pensamento que procede, por sua vez, da combinação: da imaginação, da observação do diálogo e da reflexão.

Por outro lado, o sentimento é o combustível da ação e esta, por sua vez, exige comunicação do ser humano consigo mesmo e com outro.

Dessa integração nasce o querer, o sentimento do dever, o saber e o poder de realizar.

O alinhamento fino das faculdades humanas exige intenso treinamento, simulado na mente e/ou cosolidado na prática do dia-a-dia.

Exemplos de boas práticas a respeito podem ser encontradas, na sua forma mais extrema, nos samurais, nos santos e nos sábios de todos os tempos.

No dia-a-adia essa integração ocorre naturalmente nas pessoas que buscam distinguir o falso do verdadeiro em cada situação da vida, o que coincide com a definição de bom senso dos dicionários.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Educação para a produtividade

A educação do ser humano deve ser sempre integral, visando a formar o homem capaz de usar suas faculdades de forma produtiva. Assim, é preciso ter em mente formar o cidadão consciente dos seus direitos e deveres.

É preciso, ainda, que se aprenda a trabalhar com qualidade, para produzir os bens, os serviços e os sentimentos que tornem a vida digna de ser vivida.

Mas não se pode esquecer da produtividade, para que, usando a inteligência, tudo seja feito com o menor esforço possível, fazendo sobrar tempo para as atividades culturais que tornam a vida alegre, suave e bela.

A produtividade não visa a aumentar somente a produção, embora isso seja necessário para suprir as necessidades humanas. A meta é, em anologia com o dito de Galileu Galilei, usar alavancas poderosas para mover o mundo.

Ser produtivo significa ser capaz de gastar cada vez menos energia para produzir cada vez mais e, assim, permitir que a carga de trabalho obrigatório seja cada vez menor. A produtividade, pois, garantidos os príncípios da qualidade e da cidadania, é a chave para a sustentabilidade.

terça-feira, 7 de abril de 2009

O professor e o aprendiz

A principal função do professor não é ensinar, mas garantir que o aluno aprenda a aprender.

Tive uma professora que tentou me ensinar, mas ela não conseguiu. Tive outra que estruturou minha capaciadade de aprender e, de certa forma, revolucionou a minha vida.

Posteriormente, tive professores que consolidaram minha capacidade de aprender tentando ensinar-me alguma coisa em escolas públicas de alto nível, no ensino médio e no ensino superior.

A consolidação da minha formação como autodidata ocorreu quando trabalhei com pesquisadores formados em algumas das melhores universidades do mundo. Com eles, tive liberdade para pesquisar.

Conclui que, no meu caso, assim como no caso de colegas que acompanhei, é preciso dar as ferramentas da aprendizagem ao aluno e, a partir dai, garantir que ele possa aprender o que for necessário com supervisão, mas sem imposição.

A grande meta do professor é formar o autodidata.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Educação para a transformação da realidade

A realidade, tal como a vemos, raramente é favorável à vida digna. Na natureza vemos a luta pela sobrevivência do mais apto. Entre os homens também. Mas sabemos que a realidade humana é cultural, e pode ser mudada.

Ao educar, pois, é preciso não ensinar a se contentar apenas em adaptar-se à realidade existente. Antes, é preciso ensinar como sobreviver nas mais diversas situações; mas, sobretudo, a mobilizar corações e mentes para transformar a realidade e criar aquelas condições de vida que sejam dignas do ser humano consciente de sua grandeza potencial.

Em primeiro lugar não se podem despertar desejos de consumo que, se aplicados em nível global, torne a vida no Planeta inviável. Mas infelizmente é isso que as escolas têm feito. Elas alimentam a expectativa de que o ser humano instruído poderá satisfazer não só suas necessidades, como os mais absurdos desejos, e isso sem levar em consideração a situação global.

Uma das grandes tarefas da educação é, pois, formar educadores com visão sistêmica da realidade, sob todos os pontos de vista relevantes que a História já apontou como necessários à compreensão do existência humana.

Sugestão para leitura:
A História da Civilização, de Will Durant. Como se trata de uma coleção com cerca de 12 volumes, pode-se começar com a leitura inspecional, ou prospectiva da mesma, conforme técnica descrita no livro Como Ler um Livro e resumida neste blog.

domingo, 5 de abril de 2009

Estimulados pela crise

Na década de 1980, o Prof. Noriaki Kano, da Universidade de Negócios de Tóquio, fez uma pesquisa sobre os motivos que levaram as empresas japonesas a fazer mudanças de trajetória.

Conclusão da pesquisa: 30% das empresas mudaram porque decidiram construir um futuro melhor, independente de sua situação atual. 70% mudaram porque estavam em crise, tendo de optar por morrer sem fazer nada ou tentar tudo para sobreviver.

No livro de Peter Senge, A Quinta Disciplina, conta-se que foi feito um experimento com sapos de uma lagoa. No primeiro caso, tomou-se o sapo com a água da lagoa e aqueceu-se continuamente. O sapo morreu sem regir. No segundo caso, o sapo foi jogado na água já quente, o que o fez pular e se salvar.

Algumas pessoas esperam a crise acontecer para reagir. Outras conseguem planejar um futuro ainda melhor quando já estão bem. Outras, ainda, fazem simulações de cenários e preparam-se para todas as possibilidades, boas ou ruins. Por outro lado, algumas pessoas aceitam a situação precária reinante e, como o sapo citado, deixam-se vencer sem tentar mudanças.

É preciso, pois, refletir sobre a trajetória da existência para que as mudanças não sejam simplesmente impostas pelas crises, mas decididas racionalmente e antecipadamente, se possível.

Na atualidade é preciso refletir, por exemplo, sobre as consequências: do aquecimento global, do consumo perdulário, dos resíduos poluentes e, sobretudo, da perda de referenciais para a vida saudável.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A vida é aprendizagem

A vida é aprendizagem. O sensato aprende intencionalmente, antecipando-se à necessidade. O insensato espera a necessidade para aprender, muitas vezes ignorando a experiência alheia.

O Império Romano aprendeu que os Cristãos, considerados miseráveis alienados, tinham uma força espiritual capaz de vencê-los sem violência.

Os capitalistas aprenderam que, se não fizessem concessões aos trabalhadores, seriam varridos do mundo pelo comunismo.

Os comunistas aprenderam que seus ideais poderiam, na prática, gerar uma alienação ainda pior do que o capitalismo, e que seu racionalismo poderia tornar-se mais ilusório do que as ilusões da religião que tanto combatiam.

Assim, estejamos atentos. A força espiritual do fraco pode ser mais poderosa do que a força material do poderoso. O mais humilde pode ser fonte de aprendizagem para o arrogante. O que afirma saber mais pode não deter o único conhecimento que poderia salvar-lhe a vida em certas circunstâncias.

Vivendo e aprendendo!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Dedicação a uma causa

O texto a seguir, de Friedrich Engels, foi escrito em 1845 como dedicatória da obra A Situação das Classes Trabalhadoras da Grã-Bretanha. Seu título: Às Classes Trabalhadoras da Grã-Bretanha.


Trabalhadores,

É a vós que dedico uma obra onde tentei descrever aos meus compatriotas alemães um quadro fiel das vossas condições de vida, dos vossos sofrimentos, vossas lutas e esperanças. Vivi muito tempo entre vós para ficar bem informado das vossas condições de vida; consagrei a mais séria atenção a conhecer-vos bem; estudei os mais diversos documentos oficiais e não oficiais que tive a possibilidade de consultar; não foi suficiente; não era um conhecimento abstrato do meu assunto que me interessava, queria conhecer-vos nas vossas casas, observar-vos na vossa existência cotidiana, falar das vossas condições de vida e dos vossos sofrimentos, testemunhar as vossas lutas contra o poder social e político dos vossos opressores. Eis como procedi: renunciei à sociedade e aos banquetes, ao Porto e ao Champanhe da classe média, e consagrei quase exclusivamente as minhas horas vagas ao convívio com simples trabalhadores; estou ao mesmo tempo orgulhoso e feliz por ter agido deste modo. Feliz, porque assim vivi muitas horas alegres, enquanto aprendia a conhecer a vossa verdadeira existência – muitas horas que, se assim não fosse, teriam sido desperdiçadas em conversas convencionais e em cerimônias reguladas por uma aborrecida etiqueta; orgulhoso porque tive assim ocasião de fazer justiça a uma classe oprimida e caluniada à qual, apesar de todos os seus defeitos e de todas as desvantagens da sua situação, só poderia recusar estima quem tivesse alma de um comerciante inglês; orgulhoso ainda, porque estive assim em condições de poupar ao povo inglês o desprezo crescente que foi, no continente, conseqüência inelutável da política brutalmente egoísta da vossa classe média atualmente no poder e, mais simplesmente, da entrada em cena desta classe.

Graças às vastas possibilidades que tinha de observar ao mesmo tempo a classe média, vossa adversária, cheguei rapidamente à conclusão que têm razão, muita razão, em não esperar dela nenhuma ajuda. Os seus interesses e os vossos são diametralmente opostos, se bem que ela procure sem cessar afirmar o contrário e vos queira fazer crer que sente pela vossa sorte a maior simpatia. Os seus atos desmentem as suas palavras. Espero ter apresentado provas suficientes de que a classe média – apesar de tudo o que afirma – não tem, na realidade, outra finalidade que não seja enriquecer-se às custas do vosso trabalho, enquanto pode vender o produto dele, e deixar-vos morrer de fome, quando já não pode tirar lucro desse comércio indireto de carne humana. Que fizeram eles para provar que vos querem bem, como o afirmam? Alguma vez dedicaram mais que consentir nas despesas que implicam meia dúzia de comissões de inquérito cujos volumosos relatórios estão condenados a dormir eternamente sob os amontoados de dossiês esquecidos nas prateleiras do Ministério do Interior? Alguma vez chegaram a retirar dos seus Livros Azuis a matéria de pelo menos uma obra legível, que desse a cada um a possibilidade de reunir sem custo uma pequena documentação sobre as condições de vida dos “livres cidadãos britânicos”? Não, nunca o fizeram; são coisas de que não gostam de falar. Deixaram a um estrangeiro o cuidado de apresentar ao mundo civilizado um relatório sobre a desonrosa situação em que sois obrigados a viver.

Estrangeiro para eles, mas não para vós, segundo espero. Pode ser que o meu inglês não seja puro, mas apesar de tudo, espero que o achareis claro.

Nenhum operário na Inglaterra – nem na França, diga-se de passagem – me tratou como estrangeiro. Tive o maior prazer em ver-vos isentos dessa maldição que é a estreiteza e a suficiência nacionais, que não passa, no fim das contas, de um egoísmo em grande escala: observei a vossa simpatia por quem quer que dedique honestamente suas forças ao progresso humano, seja inglês ou não – a vossa admiração por tudo o que é nobre e bom, tenha ou não crescido na vossa terra natal; verifiquei que sois muito mais do que membros de uma nação isolada, que só querem ser ingleses; constatei que sois homens, membros da grande família internacional da humanidade, que reconhecestes que os vossos interesses e os de todo o gênero humano são idênticos; e é sob o título de membros da família “una e indivisível” que a humanidade constitui, a esse título de “seres humanos”, no sentido mais amplo do termo, é que eu, e muitos outros no continente vos saudamos pelos vossos progressos em todos os campos e que vos desejamos um rápido êxito. Para a frente no caminho que vos engajastes! Muitas dificuldades vos aguardam; continuai firmes, não vos deixeis desencorajar; o vosso êxito é certo e cada passo à frente, neste caminho que tendes de percorrer, servirá à nossa causa comum, a causa da humanidade.

Barmen (Prússia Renana), 15 de março de 1845

F. ENGELS