terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Compreendendo o choque de culturas

O respeitado epistemólogo Karl Popper (veja-se o seu livro Em Busca de um Mundo Melhor) evocou Heródoto para ilustrar como as culturas podem chegar a costumes tão opostos que geram horror e, ao mesmo tempo, a necessidade de refletir sobre a pespectiva do outro antes de julgá-lo.

Relata Heródoto:

"Dario, no período do seu governo, convocou os gregos que estavam em sua corte e lhes perguntou por que preço estavam dispostos a comer seus pais mortos. Eles reponderam que nada, mas absolutamente nada, lhes faria agir desse modo. Então, Dario convocou os kallatier, um povo indu que costumava comer os pais, e lhes perguntou, na presença dos gregos, que dispunham de um intérprete, por que preço eles concordariam em cremar seus pais mortos. Ao ouvir isso, os kallatier gritaram de horror e lhe imploraram que nem sequer mencionasse tal blasfêmia. São assim as coisas do mundo."

É evidente que os costumes que colocam em risco a nossa integridade física e moral não devem ser tolerados, como por exemplo: a prática do terrorismo, a antropofagia e outras práticas invasivas. Entretanto, os costumes que não afetam a nossa integridade devem ser aceitos em sinal de respeito pelas condições de existência do outro. A tolerãncia, neste caso, é uma questão de bom senso. A intolerância torna-se a forma mais eficiente de gerar desgastes emocionais desnessários.

As tecnologias de comunicação atuais estão permitindo a troca de informações que produzirão um padrão cultural global comum construído a partir de múltiplas e recíprocas influências. Contudo, como já demonstrou o caso japonês, é possível aprender com todas os modismos e culturas, experimentá-los eventualmente e, ao mesmo tempo, manter intacto o núcleo mais profundo da própria cultura. A identidade de um povo depende de se conhecer a origem desse núcleo mais arraigado e, após submetê-lo à crítica racional, manter conscientemente os aspectos que lhe parecerem dignos de uma sociedade esclarecida.

2 comentários:

  1. que belo espaço!

    os caminhos culturais dos povos pelo mundo são realmente vastos. e é incrível a ligação de cultura e religião.

    é difícil tentar encontrar saídas de paz nos momentos de choque, como por exemplo, o que vemos hoje (e há muito tempo) na faixa de gaza.

    enfim. cultura é isso aí.
    temos que respeitá-las para que haja tolerância e paz.

    abraços!

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  2. Olá Belino,

    Vejo que você está atento à leitura da realidade!

    Abraços,
    João Martins

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