domingo, 2 de agosto de 2009

A sabedoria malandra de um amigo analfabeto

Aos 10 anos eu ainda era analfabeto. Xico, o meu amigo com cerca de 20 anos, era também analfabeto. Após ter um "estalo", estimulado pela professora Iêda, fui o primeiro da classe durante os 12 anos seguintes.

A essa altura, julgando-me inteligente, fui conversar com o Xico, que continuava analfabeto. Ele me disse: - João, sô pobre, mais vô ficá rico, se Deus quisé. Aliás, tô decidido: se Deus não quisé que eu fique rico, eu vô ficá assim memo e pronto!

Após minhas tentativas de mostrar ao Xico que era sinal de burrice provocar o Deus soberano, ele me disse: - João, ocê estudô pra burro? Eu disse que vô ficá assim memo, do jeito que tô agora: pobre e feliz.

Percebi que o meu amigo Xico tinha uma sabedoria marota. Ele me provocou e eu cai na cilada. O que me faltou foi ficar calado para perscrutar suas intenções. Eu perdi a disputa verbal para o analfabeto, mas aprendi um pouco mais sobre comunicação humana.

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