domingo, 4 de outubro de 2009

O texto precisa ser interpretado?

Ontem tive acesso ao manual de um aparelho de som sofisticado. Não entendi nada, nem quis investir tempo para entender. Trata-se de algo absurdo, pois não facilita o uso do aparelho. A tentativa e erro funcionou melhor do que a leitura do manual.

Em seguida, por coincidência, li um livro sobre interpretação da Bíblia. O autor foi logo enumerando as muitas barreiras à interpretação correta. Ele assumiu, contudo, que é possível interpretar, desde que se tenha um doutorado em teologia exegética. Por outro lado, um amigo lembrou-me que, naquilo que é essencial, a Bíblia é completamente acessível às pessoas comuns, sem a necessidade de interpretação.

No caso do manual, há um índice de controle automático: se a interpretação não for correta o aparelho não funciona. No caso da Bíblia é muito mais complicado, pois o intérprete se exime de usar o critério da prática para testar o acerto de sua interpretação. Contudo, sua mensagem central está bem delineada no Novo Testamento: trata-se de se colocar o amor em prática e, quanto a isso, nenhuma interpretação adicional faz diferença.

Conclui que os textos que são escritos para serem interpretados precisam de uma introdução, ou de uma ordenação que, automaticamente, remeta o leitor aos pontos-chave. O critério para se julgar a efetividade do texto é a possibilidade de que alguém que saiba ler razoavelmente bem possa praticar e obter os resultados nele previstos. Aliás, é bom lembrar que uma imagem vale mais do que mil palavras, e que os textos podem trazer dificuldades insuperáveis se não levar isso em conta.

Os textos que exigem grande esforço de interpretação não são bons como materiais didáticos, a não ser que tenham sido programados para exercitar a mente. No que se refere à mensagem básica, não se pode criar dependência da leitura de manuais e de intérpretes especializados, ainda que os intérpretes e os manuais estejam à disposição.

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